Por Ana Paula A. Alberti
1.410 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2022, o que significa que uma mulher foi assassinada a cada 6 horas no ano passado. Os dados revelados pelo Monitor da Violência do G1 e do Núcleo de Estudos da Violência da USP, escancaram que a luta feminina é fundamental para a preservação da vida e da igualdade de gênero.
Estamos no século 21 e vemos uma sociedade adoecida, que tem enraizada conceitos da Idade Média, que não sabe respeitar, que vive sob um discurso passivo-agressivo, que não evolui. Mulheres ainda apanham, são subjugadas, desmerecidas, caladas, vivem com medo dentro e fora de casa, pensa antes de colocar uma roupa mais “ousada” por medo dos olhares reprovadores (inclusive de outras mulheres), dos comentários maldosos, e do assédio físico, como se a roupa fosse um convite ao abuso.
O mês de março é “dedicado” às mulheres há 112 anos. Em 25 março de 1911, uma fábrica têxtil de Nova York pegou fogo e mais de 120 trabalhadoras morreram, mesmo elas tendo alertado sobre o perigo iminente e lutado por melhores condições de trabalho (obviamente sem sucesso). Em 8 de março de 1917, mulheres russas foram às ruas pedir direitos para o gênero, e desde então nesse mesmo dia eventos voltados a causa feminina vêm ocorrendo por todo o mundo. Mas foi décadas mais tarde, após a luta feminista ter ficado cada vez mais forte e presente, com a consolidação do direito ao voto e a adequação de leis que, em 1975, a ONU reconheceu a data como uma celebração dos direitos do gênero feminino e estabeleceu, então, que o dia 8 de março seria o Dia Internacional das Mulheres. Um dos poucos dias não instituídos pelo comércio, como dia das mães, dia das crianças, dia dos namorados, etc.
Apesar das conquistas femininas, ainda há muita luta. É verdade que há homens que mudaram seus conceitos, que acreditam e apoiam a causa, mas ainda há muitos homens e também mulheres que ensinam aos seus filhos o machismo, que é enraizado em nossa cultura. É impressionante como vemos esse comportamento nos dias de hoje, crianças e adolescentes ensinados a tratar a mulher como um objeto, como se não tivesse vontade própria, opinião, direitos. Precisamos mudar isso.
A mudança pode, também, começar pelo poder público. Mulheres e homens deveriam conhecer a Legislação que defende o gênero, que vai muito além da, mais famosa delas, Lei Maria da Penha. São diversas as Leis que protegem as mulheres, entre elas: Lei Carolina Dieckmann (12.737/2012), Lei do Minuto Seguinte (12.845/2013), Lei Joana Maranhão (12.650/2015), Lei do Feminicídio (13.104/2015), Lei da Importunação Sexual (13.718/2018), e agora, o Governo Federal anunciou o Projeto de Lei que institui a Igualdade Salarial e Remuneratória entre Mulheres e Homens, a retomada e ampliação do Mulher Viver sem Violência, entre outras medidas. A ampla divulgação dessas ferramentas é fundamental para o início da transformação da sociedade. Educar os homens para que eles entendam que não são superiores por se acharem mais fortes fisicamente é essencial. Ensinar respeito (a tudo e todas) às crianças é imprescindível para a transformação que buscamos.
Não é “mimimi”, uma de nós morre a cada 6 horas nesse país. Não é frescura, estima-se que houve no ano passado 822 mil estupros – o equivalente a 2 por minuto. Somente no Estado de São Paulo, em janeiro deste ano, foram 18 feminicídios, 34 tentativas de homicídios, 4968 lesões corporais dolosas e 134 estupros.
Em Bragança, em 2022, foram instaurados 823 inquéritos na Delegacia da Mulher, e outros 77 foram abertos apenas em janeiro deste ano. Hoje, 70 mulheres bragantinas estão inseridas no Projeto Guardiã Maria da Penha. A luta é árdua e continua. Seguimos! Denuncie 180.
Ana Paula A.Alberti – é redatora e administradora da Gazeta Bragantina e GB Norte, mulher, mãe, esposa, e tudo mais que o feminino traz.