Por Ana Paula A .Alberti
Em 2023, quando a tecnologia da informação é parte do dia a dia das pessoas, que tudo, absolutamente, tudo que você quer saber é só “dar um google” que você tem a resposta, as pessoas deveriam ser melhor informadas, ter conhecimento e conteúdo. Mas o que se vê é que quanto mais acesso a conteúdo, mais ignorantes as pessoas ficaram. Conteúdos mentirosos, ruins, mal escritos, com duplo sentido, o vale tudo por um like e pelo engajamento. O que se viu nessa última semana no Brasil, foram milhões de pessoas julgando, apontando o dedo, sendo doutores em medicina, mais especificamente em transplante de órgãos. A cada matéria que a mídia divulgava, os comentários eram “furou a fila”, “ tem dinheiro”, “ foi beneficiado”, “é rico”, e tantas outras besteiras. Ninguém perdeu 1 único minuto para fazer uma pesquisa boba que saberiam que não é fila – é LISTA de espera, que há critérios para ser doador e receptor de órgãos, que o BRASIL fez até junho deste ano 23,4 transplantes por dia, são 4.247 no ano (segundo o Registro Brasileiro de Transplantes), mais de 1 mil anônimos receberam um fígado, outros 200 um coração, além dos mais de 2 mil que receberam rins, 7 mil que receberam córneas e outros 32, pulmões. E todas essas informações eu demorei 5 minutos para pesquisar e ler, de fonte segura, a Associação Brasileira de Transplante Órgãos (ABTO). Mas o que deveria ser um incentivo para mais pessoas serem doadores, para mais famílias que estão vivendo o momento mais difícil de suas vidas aceitar doar um órgão de quem já não está mais aqui, se transformou num “viral” de fofoca, maledicência, crueldade.
Sei que poucos lerão esse texto, e terão o entendimento de que a crítica é para que as pessoas leiam sobre o que querem comentar, se informem, há milhares de fontes de pesquisas sérias, parem de julgar o que não entendem, apontar o dedo na cara dos outros, olhem para o seu teto de vidro! Ou todo mundo é perfeito nesse mundo? Se você estivesse na lista de transplante ou alguém que ama, agiria assim? Ou rezaria dia e noite para ser o próximo a receber um órgão? Faustão recebeu o seu, graças à uma família que num momento de dor profunda, resolveu ser generosa e doar os órgãos do filho, do marido, do irmão. Que sorte a de Fausto Silva, que sorte dessas 4.247 pessoas que receberam seus órgãos e a segunda chance de viver. Que fiquemos felizes pelos outros, pela oportunidade de estarmos vivos, saudáveis, enquanto outros não têm essa mesma chance. Que paremos de ser julgadores e carrascos. Eu só penso no mundo que meu filho está crescendo, e tento todos os dias ensiná-lo a ler e entender um texto. Ensiná-lo respeito, empatia, solidariedade, quem sabe assim a geração dele não veja tantos ataques gratuitos, cruéis, ignorantes, e quando os ver saiba discerni-los. Tenho saudade da vida analógica, quando consumíamos a informação que precisávamos e queríamos, agora a maioria é bombardeada por coisas inúteis, mentirosas e burras. É o mundo moderno dominado por algoritmos.