Wagner Azevedo
O dom da oratória, todos hão de concordar, nunca foi o forte de Lula. Na verdade, da maioria dos petistas. Sá hábeis teóricos, porém tropeçam nas palavras, exageram no uso incorreto dos adjetivos e sentem dificuldades em concluir raciocínios. Isso vem desde sempre. Claro que tropeçar nas palavras pouco importa às plateias manipuláveis, os incautos, que nutrem pelo presidente um grande apreço.
E Lula, desde que assumiu o terceiro mandato, tem produzido pérolas dignas do FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País), criação do saudoso jornalista Sérgio Porto, em 1966, conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, que colecionava e publicava o besteirol dos políticos.
De janeiro a esta data, Lula tem se especializado em frases desastrosas que não só comprometem a sua imagem, mas também a do País. Durante seus improvisos, a certeza que se tem é que bobagens vão ser ditas.
A mais constrangedora delas, que trouxe embaraços para a diplomacia brasileira, foi durante sua visita a Cabo Verde, dias atrás, no continente africano, que ao lado presidente anfitrião disparou: “Somos gratos por tudo o que foi produzido pelos 350 anos de escravidão no Brasil”. Um disparate de fazer corar estátua, por mais que ele tenha tido boa intenção.
Em se tratando do continente africano, Lula também tem em seu currículo um outro improviso com uso infeliz de palavras, datado de novembro de 2003, em visita à Namíbia, ao se mostrar surpreso com a beleza e a limpeza da capital, Windhoek. Disse em alto e bom som: “Estou surpreso porque quem chega a Windhoek não parece estar num país africano. Poucas cidades do mundo são limpas e bonitas”. Claro que essa fala passou a integrar o repertório de suas maiores gafes, logo no primeiro ano de seu governo.
Verdade seja dita: as construções vocabulares do presidente nos remete a um personagem fictício, mas nem tanto, de Dias Gomes, o prefeito Odorico Paraguaçu, que governava a pequena cidade baiana de Sucupira, pródigo em cunhar expressões que se tornaram antológicas na cultura nacional e marcou gerações de políticos e telespectadores.
Nos últimos dias o presidente informou que decidiu reforçar sua equipe responsável por preparar os discursos, medida que busca evitar novas gafes e garantir uma comunicação mais precisa e alinhada com suas intenções.
Louvável da parte de Lula. O problema é outro, o improviso. E para isso, não há remédio.
O dramaturgo Dias Gomes criou, no final da década de 1960, um dos mais folclóricos personagens da história do teatro e da televisão brasileira. Odorico Paraguaçu era um político nordestino que não tinha limites em suas artimanhas e armações. O objetivo dele era sempre se dar bem. Prefeito da cidade de Sucupira, ele conhecia todos os caminhos da corrupção e dos conchavos com o parlamento. Só que essa não era sua única característica marcante. Odorico Paraguaçu era um frasista de mão cheia, com uma capacidade imensa de manipular as plateias que o idolatravam, não importando o tamanho da besteira dita.
Imortalizado pelo ator Paulo Gracindo, Odorico cunhou momentos antológicos da história cultural brasileira e marcou gerações de telespectadores. Aproveitando uma de suas mais famosas construções vocabulares, vamos pôr de lado os entretantos e partir direto para os finalmentes.
Nos dias de hoje, Odorico Paraguaçu parece ter ganho um competidor à sua altura. O presidente Lula, nesses primeiros meses do terceiro mandato, tem se especializado em produzir frases desastrosas que comprometem a imagem do cargo e do País interna e externamente. A cada discurso improvisado, a única certeza que se tem é que uma nova bobagem vai surgir.
A mais recente e constrangedora, até agora, se deu na quarta-feira, 19, na cidade de Praia, capital de Cabo Verde. Lula destacou, ao lado do presidente do país, sua gratidão à África “por tudo o que foi produzido pelos 350 anos de escravidão” no Brasil.
A fala, por si só, é constrangedora e embaraçosa para a diplomacia brasileira. Por mais que ele tenha sido bem-intencionado, acabou produzindo memes e críticas aos borbotões.
Essa não foi a primeira vez que Lula usou combinações infelizes de palavras para se referir ao continente africano. Em novembro de 2003, em uma visita à Namíbia, ele se disse surpreso com a e beleza e a limpeza da capital, Windhoek. “Estou surpreso porque quem chega a Windhoek não parece estar num país africano. Poucas cidades do mundo são limpas e bonitas”, declarou Lula, na ocasião. A fala foi apontada como uma das maiores gafes de seu primeiro ano de governo.