Entre o celular, o sono e a calcinha
PAULO ALBERTI FILHO
As sessões online das Câmaras Municipal, Federal ou Senado, e ainda qualquer transmissão ao vivo pela internet de agentes púbicos, requer muito cuidado. Primeiro que a maioria das pessoas estão em recinto privado, na intimidade de sua casa ou escritório, locais em que todos ficam distraídos, até pela falta de atenção ou afinidade com a tecnologia. E falta de atenção é o que não falta para a maioria dos parlamentares do País. Uns dormem na sessão, outros assistem pornô, como aconteceu com o deputado federal João Rodrigues do PSD de Santa Catarina, flagrado assistindo vídeo pornô durante votação da reforma política em 27 de maio de 2015. Foi um ato falho porque o deputado recebeu uma mensagem no whastapp, abriu e o zoom da câmera de um fotografo da Folha se encarregou de execrar o parlamentar.
Acredito que foi o que aconteceu com o vereador Ditinho do Asilo, flagrado pela distração “saboreando” uma calcinha. Mas…quem nunca?
Nada seria tão explorado, não estivesse ele em plena sessão da Câmara. Esse é o agravante do fato.
Para um pensamento moralista, conservador geralmente falseado pelo puritanismo igualmente falseado, que abraça as mentes cruéis e retrogradas, o fato sugere um escândalo. Mas não é menos escandaloso do que dormir durante a sessão, ou mergulhar no celular enquanto uma matéria importante é lida ou quando alguém ocupa a tribuna, ou ainda abandonar o plenário para encontros furtivos. Não defendo o ato distraído do vereador Ditinho, não tenho intimidade com ele e nem com nenhum dos vereadores, porém, sacrificá-lo por uma falha funcional, é muita crueldade.
Um ato falho cometido ao vivo na internet, repercute no planeta. Mas o ato falho do vereador Ditinho foi encarado pelas mídias como uma grande piada. E todo mundo riu.
Gerou memes, programas de tv engraçados, mas nenhum deles feriu sua honra ou o taxou de perverso ou qualquer adjetivo que diminua seu prestigio, sua dignidade e da Câmara. O ato é mais condenável pelas razões já expostas, porém não motiva suficientemente para privá-lo do restinho do mandato.
Creio que a punição mais severa ele já sofreu com a exposição do fato em rede nacional, pelo constrangimento perante a família, amigos enfim, perante a sociedade.
Obviamente a Comissão de Ética da Câmara deverá dar seu veredito baseado na razoabilidade. Entendo como razoabilidade uma advertência sobre o comportamento durante as sessões que valha também para os demais vereadores.
Não se deve julgar o trabalho e a conduta do vereador pelo ato falho, porque durante o mandato que se finda, Ditinho produziu muito para a cidade e para o bem estar da população.
O julgamento final devemos deixar para as urnas da eleição municipal deste ano.