WAGNER AZEVEDO
A imprensa esportiva brasileira, de forma geral, salvo raríssimas exceções, é repetitiva, cansativa e todos, indistintamente, são técnicos de futebol. Esse quadro vem de longe.
Durante a Copa do Mundo do Catar acrescentaram outras ‘pérolas’ ao repertório, como os novos e incompreensíveis termos para comentar uma partida, o achismo, a adivinhação, receitas técnicas e táticas de como o Brasil deveria jogar, quais jogadores escalar, enfim, os cronistas sabem tudo, muito mais que os treinadores. Nesse caso, é bom lembrar que só a CBF e a panelinha de Neymar acharam que Tite era o cara certo. Viu-se que não era.
O que chamou a atenção nos últimos dias, no entanto, que acabou virando manchete de jornal, das redes sociais e longos debates nos programas esportivos de TV, foi o fato de um ex-jogador inglês criticar jogadores brasileiros e o técnico Tite pelas dancinhas que fizeram após a marcação de um gol. Caro leitor, é inacreditável isso.
Um assunto tão banal ficou dias e dias em cartaz na mídia, com acalorados comentários, críticas exacerbadas ao ex-jogador e hoje comentarista inglês e explicações sobre a cultura do futebol tupiniquim.
Um assunto que beirou a idiotice, mas que movimentou todo o jornalismo esportivo brasileiro, como se a discordância do inglês fosse uma ofensa grave à Nação, representada pelos jogadores.
Na falta de coisa melhor para fazer e exercitando seu lado populista, até o presidente Lula deu seu pitaco na dancinha.
O favoritismo, o otimismo desmedido, a quase certeza do Brasil na final, desabou diante da Croácia nas quartas-de-final e a imprensa, até então quase unânime sobre a performance dos nossos intrépidos canarinhos, se viu igualmente derrotada. E aí, pau no técnico, na comissão técnica, nos jogadores, e a dancinha festiva deu lugar ao chororô.
A verdade é que a imprensa brasileira, em boa medida ufanista, precisa recuar nos arroubos quando se trata de alguma disputa em que o Brasil, de modo geral, esteja envolvido. Toda vez vende aquilo que não pode entregar: vai ter escolha de Papa, algum cardeal brasileiro é favorito; escolha de Miss Universo, uma brasileira entre as três favoritas; filme estrangeiro no Oscar, um brasileiro entre os mais cotados; qualquer competição esportiva, o Brasil é favorito.
Em se tratando de futebol, como disse o craque Zico em entrevista esta semana, faz tempo que o melhor futebol do mundo não é o do Brasil. Duro é convencer os cronistas esportivos dessa verdade.