A violência doméstica é investigada como um fenômeno mundial e apesar de suas faces e especificidades, uma psicóloga norte-americana Leonore Walker, identificou semelhanças naquelas violências sofridas dentro de um relacionamento conjugal, estabelecendo um ciclo que se apresenta dentro deste contexto de forma constante e repetida, após analisar diversos casos concretos.
Esse ciclo é caracterizado por três fases principais: Fase 1 Evolução da tensão, Fase 2 Explosão (incidente de agressão) e Fase 3 Lua de mel (comportamento gentil e amoroso). Vale aqui fazer uma breve análise do início de um relacionamento. Ninguém conhece uma pessoa, se interessa por ela, marca um encontro e chegando lá já se apresenta um opressor, lhe ofende ou lhe agride. No momento da conquista o indivíduo se apresenta gentil, carinhoso, protetor e extremamente empenhado em levar a diante uma relação. Esse é um fator relevante quanto avaliamos a dificuldade da vítima em romper com o agressor.
Alguns psicólogos definem as vítimas em dois tipos basicamente: aquelas que tem o perfil de vítima, que apesar de identificar o início de um comportamento abusivo ela continua esse envolvimento, não conseguindo se desligar do parceiro(a) e existem aquelas mulheres que não possui o perfil de vítima, e logo que identificam essas mudanças de comportamentos, rompem e seguem suas vidas adiante. Sendo assim, todas as mulheres estão passiveis de se envolver com um agressor ao longo de suas vidas, mas algumas se livram rapidamente. Aquelas que continuam, porém, logo se veem diante de uma pessoa que apresenta irritabilidade por coisas insignificantes, começa a humilhar essa vítima, pode até mesmo fazer ameaças e quebrar objetos. Normalmente nessa primeira fase ele(a) já começa a culpar a vítima pelos seus ataques e ela interioriza essa culpa, justificando todas as ações agressivas de seu companheiro(a), causando-lhe a sensação de tristeza, angústia, ansiedade e medo, entre outras.
Com a evolução do relacionamento esse agressor passará a segunda fase, onde a falta de controle chega ao limite e leva ao ato violento, toda aquela tensão acumulada na primeira fase explode de maneira brutal e o que era até então uma violência psicológica, passa a ser agora também a física. Mesmo tendo consciência de que o agressor está fora de controle a mulher tem um sentimento de paralisia e dificuldade de tomar uma decisão, podendo apresentar sintomas como: insônia, perda de peso, fadiga, sente medo, solidão, pena de si mesma, vergonha confusão e dor. Nesse momento algumas podem tomar decisões, buscar ajuda, denunciar e pedir até mesmo a separação. Vale lembrar de que muitas vezes esse agressor se apresenta a sociedade como um homem de boa índole, e trabalhador, gente boa com os amigos, sem passagem pela polícia, o que dificulta essa busca de ajuda, pois ainda estamos presos ao paradigma de que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”, ainda mais quando o homem é de tão boa índole.
Enfim chegamos a terceira fase da violência, a lua de mel, caracterizada pelo arrependimento do agressor, juras de amor, promessas de mudanças e essas atitudes fazem com que ele se torne amável e busque a reconciliação. A mulher, por sua vez, confusa e pressionada a manter seu relacionamento diante da sociedade, sobretudo quando tem filhos do casal, na maioria das vezes reata. Lembrando de que no início do relacionamento ele já se apresentou assim, iludida pelas falsas promessas ela resolve dar mais uma chance para o relacionamento ou desiste de romper se ainda não o fez, busca a delegacia e pede para que ele não seja processado, afinal ele é um bom marido, só estava nervoso. Esse sentimento de remorso que o agressor demonstra nessa fase faz com que a mulher se sinta responsável por ele estreitando a relação entre vítima e agressor.
As mulheres que sofrem violência evitam o assunto sobre o problema por um misto de sentimentos: vergonha, medo, constrangimento e podem levar até dez anos para tomar uma atitude, algumas delas infelizmente não terão esse tempo e perderão suas vidas pelo caminho. Os agressores por sua vez, constroem uma autoimagem de parceiros perfeitos e bons pais, dificultando a revelação da violência contra suas parceiras. Por todas essas razões é inaceitável a ideia de que a mulher permanece em um relacionamento porque gosta de apanhar.