Wagner Azevedo
Considerada uma das instituições mais organizadas e capacitadas do serviço público brasileiro, o IBGE parece ter sucumbido à bagunça que reina no âmbito político em todas as suas instâncias.
A realização do Censo Demográfico tem mostrado um repertório de erros e desencontros nunca antes visto, nem mesmo nos levantamentos há vinte, trinta anos, quando as condições de trabalho eram mais precárias, com pouquíssima tecnologia.
O início de coleta de dados em campo deveria ter sido feito em 2020, que acabou suspensa em razão da pandemia do coronavírus, algo perfeitamente plausível, já que a segurança das pessoas estava em risco. E a postergaram para 2021, quando entrou em cena o famoso ‘não há recursos’ para bancar um Censo dessa magnitude, com abrangência nacional. Talvez tenha sido nesse período que a debacle apresentou os primeiros sintomas.
Em 2022, somente em agosto, é que o time do IBGE entrou em campo, completamente desfalcado, porque a oferta de vagas para recenseadores não sensibilizou candidatos, tanto pelos salários, quanto pelas condições e metas a serem alcançadas.
Daí em diante que a coisa degringolou de tal forma, com atrasos nos prazos estipulados, com repetidos processos seletivos para cooptar recenseadores, ingredientes que geraram pesadas críticas ao IBGE. A cereja do bolo veio no dia 27 de dezembro do ano passado, quando o Instituto, por força da legislação, divulgou uma prévia populacional, que resultou numa avalanche de protestos de municípios que se viram com número de habitantes menores em relação às estimativas do próprio órgão, anunciadas em julho de 2022.
Virou um deus nos acuda, choveram críticas ásperas, os políticos procuraram rapidamente os holofotes e todo esse conjunto colocou em dúvida a qualidade do trabalho de pesquisa e a confiança nos resultados.
O Censo ainda não terminou. Há revisões em cidades que botaram a boca no trombone, locais que não foram visitados, novos cálculos, enfim, tudo o que o IBGE nunca fez e que jamais faria.
Várias datas e prazos foram estipulados para a divulgação dos dados oficiais da população brasileira. Nenhum deles foi cumprido.
E ficam duas indagações: A coisa ainda vai longe? Uma vez divulgados os resultados, serão eles aceitos por todos os municípios?
O que resta é aguardar cenas do próximo capítulo.