Nos domínios da Amazônia, em suas profundezas, ficam à espreita os pequeninos Caruaras. Como criaturas de um plano fantástico, eles são invisíveis para muitos; mas, aqueles que conseguem vê-los, os descrevem como seres bem peculiares e irritadiços, com um corpo insectóide e similar a um galho seco, como se fossem um bicho-pau. Dizem também que eles nutrem uma estranha aversão às mulheres menstruadas.
Também grafados como Caroaras, aos homens não causam nada, mas são bastante temidos por aquelas que caminham pelas trilhas até a roça, fazendo com que essas mulheres tomem muito cuidado quando vão apanhar algo, ou realizar outros afazeres. Sempre municiados com seus arcos e flechas especiais, ao avistarem suas vítimas, eles usam de sua invisibilidade em meio às matas. Zangados e atraídos pelo cheiro menstrual, atiram furtivamente suas flechas invisíveis mirando nas juntas; causando inchaço e fortes dores nos membros superiores e inferiores do alvo, do mesmo modo que nas articulações.
Em vários mitos os processos interiores são exteriorizados, eles dão forma aos problemas, ao imaterial. Neste caso, os Caruaras personificam essa dor, podendo estar ligados ao reumatismo e a outras doenças articulares, ou às dores e inchaços que muitas mulheres relatam no período menstrual. Inclusive, “carú-uara”, em tupi-guarani, pode significar “o que come ou corrói”, termo relacionado a doenças que dão muita coceira, como a sarna e a bouba.
Ainda na região Norte, quando a poliartrite acomete o gado, causando extremo inchaço e paralisia nas pernas, tal moléstia é popularmente conhecida como “caruara”. Há também uma espécie de formiga com esse nome, habitante das árvores e dotada de uma mordida que coça intensamente. Ainda assim, não tão inconveniente quanto um ataque do folclórico Caruara.
Caio Sales é ilustrador e escritor, autor da série O Imaginário do Mundo e criador do blog My Creature Now, sobre criaturas mitológicas e lendas urbanas. @caiosales_art | Acesse: www.mycreaturenow.com