Fuga, perseguição, resistência e xilindró. Essa foi a ordem da prisão em flagrante do estelionatário que aplicava o “golpe da maquininha de cartão”, Johnathan L. J. R. de 24 anos, na cidade de Atibaia, no dia 28 de julho, logo após tentar aplicar outro golpe. A prisão do estelionatário contumaz, trouxe o esclarecimento de pelo menos 15 casos que estão em andamento na Delegacia de Investigações Gerais – DIG, sobre golpes aplicados pelo meliante apenas em Bragança Paulista. Aliás, ele já foi reconhecido por diversas vítimas e outras ainda podem surgir. Segundo o delegado titular da especializada Dr. Henrique de Paula Rodrigues, a onda de golpes não se restringiu apenas a Bragança Paulista. “Acreditamos que mais de 15 golpes foram aplicados apenas aqui em Bragança Paulista. Agora com a prisão em flagrante dele em Atibaia, cometendo o mesmo crime, nos mostra que ele atuava, não só aqui em Bragança, mas também na região”, explicou o delegado. O marginal, residente na zona sul de São Paulo, já havia sido preso em flagrante em 2021 pelo mesmo crime e faz parte de uma quadrilha especializada neste tipo de crime.
O titular da especializada ainda disse que com a autoria do criminoso revelada, o caso será encaminhado ao 1º Distrito Policial – Central de Polícia Judiciária – que dará andamento aos trâmites para que esse golpista responda por seus crimes na justiça. “Estamos levantando os Boletim de Ocorrências com casos semelhantes a esses. Já trouxemos algumas vítimas aqui na delegacia para fazer o reconhecimento e a maioria reconheceu esse indivíduo. Então agora, tendo em vista que a autoria foi esclarecida o caso vai ser remetido para o 1º Distrito Policial, que irá dar prosseguimento nos tramites para que ele responda na justiça por todos os crimes que ele cometeu”, disse Dr. Henrique.
A reportagem da GB acompanha o caso desde 26 de fevereiro, quando a DIG iniciou as investigações. Durante todo o trabalho investigativo foram usadas ferramentas de inteligência e acesso à informação, bem como realizadas campanas e diversas diligências na intenção de prender o marginal, que já era o principal suspeito do caso. Porém, nenhuma prova que ligasse o estelionatário aos crimes cometidos na cidade e que comprovasse sua identidade como autor desses golpes era encontrada nas diligências. Em uma delas, as equipes da DIG encontraram diversas máquinas de cartão utilizadas nos golpes, identificou outro indivíduo que era responsável pelo local, porém, ele não foi encontrado e nem se apresentou quando intimado. Dessa forma, cientes de como ele agia, os tiras da especializada emitiram um alerta para à motocicleta utilizada por ele e do modo que ele agia. Isso foi crucial para a prisão dele na cidade de Atibaia, onde ele foi flagrado após tentar aplicar um golpe e sua motocicleta “apitar” na muralha digital da cidade. Isso levou a uma perseguição e a sua prisão.
Como age a quadrilha – Segundo o delegado titular da DIG, houve uma onda desse crime em Bragança Paulista com mais de 15 vítimas. Ele explicou que o estelionatário tinha uma espécie de cadastro das vítimas e ligava para elas, principalmente em época de aniversário, dizendo que ia fazer uma entrega de bolo como um presente, usando o nome de uma renomada empresa do ramo. Em alguns casos, na época da Páscoa, o marginal chegou a entregar ovos de Páscoa para a vítima, também de uma marca renomada.
“Ele ligava para as vítimas pessoas mais idosas, falava que era um presente que alguém teria enviado, que a vítima só teria que pagar a taxa de entrega e que essa taxa não poderia ser paga em dinheiro e apenas no cartão. A pessoa recebia o pacote de presente e, sensibilizada entregava o cartão para o cidadão para pagar a taxa de entrega. Aí ele ludibriava a vítima, falava que o cartão não passava, e posteriormente a vítima ia ver ele tinha passado valores altos”, explicou Dr. Henrique de Paula Rodrigues.
A GB apurou que a estrutura da quadrilha é complexa e meticulosa, uma vez que os golpistas sabem nomes, datas de aniversários e até problemas de saúde das vítimas. Conforme apurado, a quadrilha aplicou golpes em toda a região bragantina, região de Jundiaí e em cidades da região de Campinas, como Valinhos, Limeira e Itatiba. Durante as investigações os tiras da DIG, descobriram que Johnathan era responsável por encontrar novas vítimas e passá-las aos comparsas. Já em Bragança Paulista e cidades da região, era ele o responsável em aplicar os golpes. Em abril dois membros da quadrilha foram presos aplicando golpes em Jundiaí, com o mesmo “modus operandi”, do marginal preso.
Os primeiros golpes – O primeiro golpe que foi registrado em Bragança Paulista aconteceu no dia 26 de fevereiro e vitimou uma idosa de 83 anos. Ela recebeu uma ligação do marginal que disse que ela havia ganho um bolo por ter sido sorteada como aniversariante do mês na empresa de bolos. Como a aniversário da vítima foi no dia ela não desconfiou e recebeu o golpista, que quando chegou disse seu nome completo. Ela inicialmente ia pagar o valor em dinheiro, porém, o golpista recusou alegando norma da empresa de bolo e que só aceitaria cartão. Ela então entregou o cartão ao estelionatário para pagar uma taxa de R$ 4,99, porém, o valor debitado foi de R$ 9.999,99.
A GB levantou outro golpe, aplicado em 14 de abril, quando o marginal foi até a casa de outra vítima idosa, alegando que teria um presente para entregar a ela, dizendo seu nome completo. Ele levava consigo um ovo de Páscoa especial para diabéticos e a vítima era diabética, o que prova o levantamento feito pela quadrilha na escolha das vítimas, e disse que para a entrega ela deveria pagar uma taxa de R$ 7,50. Sem suspeitar, a vítima tentou entregar uma nota de R$ 10, porém, a exemplo dos demais caso o dinheiro negado pelo estelionatário, tendo ele dito que o pagamento só poderia ser feito em cartão porque ele era terceirizado. Ela então entregou um cartão para o marginal, tendo ele se afastado e retornado logo em seguida alegando que a operação não tinha dado certo. Ela então entregou o cartão de seu marido, ele tampando o valor a ser pago, pediu que a vítima digitasse a senha se afastando alegando que a “internet estava ruim” e assim o fez mais quatro vezes, até que por fim ele disse que a operação havia dado certo e deixou o local rapidamente sem entregar comprovante à vítima. Mais tarde o marido da vítima constatou que foram feitas cinco operações em seu cartão, uma no valor de R$ 7.999,99 e outra no valor de R$ 3.999,99, além de outras três que foram negadas.
“Ele se aproveitava de pessoas com um pouco mais de idade e com menos conhecimento em tecnologia. Pelo perfil dele, ele entendia que seria mais fácil ludibriar elas falando que o cartão não estava passando, ficando mais fácil para aplicar os golpes”, esclareceu o delegado. Além disso, a escolha de idosos é uma estratégia do marginal, que se apega na opção de que idosos não irão reconhecê-lo como autor, porém, mesmo sem o reconhecimento de algumas vítimas, as investigações apontavam que o meliante entrou em contato com via telefone com as vítimas antes dos golpes.
Da mesma forma ele aplicou dezenas de golpes apenas em Bragança Paulista, apenas mudando os presentes de ovos de Páscoa para bolos e alterando a taxa de entrega, porém, sempre embolsando altos valores de suas vítimas, uma vez que pelo levantamento que faziam das vítimas, sabiam qual valor poderiam passar.
Tentativa de golpe – No dia 28 de julho, uma sexta-feira, Johnathan tentou aplicar um golpe em uma vítima de 79 anos, na cidade de Atibaia, usando o mesmo “modus operandi”. Como de costume, ele chegou à casa da vítima e disse que ela havia sido presenteada com um bolo e que para o recebimento era necessário o pagamento de uma pequena taxa, via cartão de crédito, para efetivar a entrega do “presente. Porém, dessa vez, o “tiro saiu pela culatra” e a vítima desconfiou das ações do marginal, acionando a GCM.
Fuga, queda, colisão e xilindró – Antes da vítima acionar a polícia, Guardas Civis Municipais da cidade de Atibaia, já haviam sido comunicados que uma motocicleta Honda/ADV 150, placa de São Paulo, EXC3B58, que era usada pelo estelionatário, havia sido detectada pela muralha digital. As equipes passaram a patrulhar com vistas a motocicleta e depararam com ela com Avenida Lucas Nogueira Garcez. O gatuno, ao notar a presença policial, saiu em fuga pelas ruas da cidade, sendo perseguido até a rodovia Fernão Dias, onde ele perdeu o controle de direção da moto e caiu. Insistente na fuga, o marginal subiu novamente na moto e reiniciou a fuga, porém, pela contramão de direção, porém, o “bração”, não foi hábil o suficiente e colidiu frontalmente contra uma viatura da GCM. Ele foi abordado e em sua posse os GCMs, encontraram uma bolsa contendo uma caixa de bolo de uma renomada empresa de bolos, três telefones celular e duas máquinas de cartão que eram usadas para aplicar os golpes. Os GCMs ainda apuraram que ele não era legalmente habilitado e que a placa da motocicleta estava escondida embaixo do banco do veículo. Devidamente algemado, devido ao receio de fuga, Johnathan foi colocado no compartimento de presos da viatura, momento em que ele investiu contra os guardas, saltou do veículo numa tentativa desesperada de fugir, porém, ele foi impedido por um dos guardas que sofreu ferimentos na mão e acabou rompendo o tendão do dedo mínimo da mão, diante da fúria do estelionatário, que finalmente foi contido e preso.
Altos valores – Até o momento a polícia tem convicção que o estelionatário embolsou mais de R$ 200 mil de suas vítimas, apenas na região bragantina. Em sua maioria os golpes ultrapassavam R$ 10 mil. No dia de sua prisão, comprovantes das máquinas apreendidas apenas nos dias 23 e 25 de julho, foram passados um total de R$ 23.755,77. Ele não soube justificar de onde vieram esses valores e também não apresentou nenhuma ocupação lícita que justificassem um ganho tão alto em apenas dois dias.