Jonathan Alberti
Massacrada por vereadores, imprensa, população e até pelo Executivo, e alvo de diversos processos judiciais, a empresa JTP Transportes atendeu a reportagem da GB e GB Norte, para apresentar o seu lado da história. A entrevista aconteceu na sede da empresa na Hípica Jaguari, na terça-feira (15) e foi concedida pelo representante legal da JTP – Transportes, André Ferreiro. Ele revelou a diminuição das reclamações por parte da população em 77% no mês de julho, em comparação ao primeiro semestre de 2023 e a melhoria no serviço com a contratação de 22 motoristas, oito mecânicos, um líder de mecânica, dois eletricistas e um planejador de controle, além do aumento dos veículos em circulação, sendo essas metas apresentadas por Paulo Henrique Wagner, sócio administrador da empresa, no dia 6 de junho, na Câmara Municipal. Ferreiro ainda falou sobre o alto investimento da empresa para o início e manutenção da operação, que aliás supera os valores somados da indenização e subsídio que até hoje foram repassados a empresa. O executivo também apresentou explicações sobre o déficit financeiro que a empresa vem sofrendo e falou sobre a busca pelo tão esperado equilíbrio financeiro.
Segundo o representante legal da empresa, a JTP-Transportes não tem mais problemas judiciais na esfera contratual e que o contrato está operando regularmente.
Melhorias na Operação – A empresa reforçou a frota e saiu dos 44 carros que iniciaram a operação durante a pandemia, para 62. Nesse ponto, André Ferreiro afirmou que os cinco carros apresentados pelo sócio administrador da empresa na Câmara foram acrescidos à frota operacional, que à época contava com 51 veículos, de um total de 62 patrimoniais. Atualmente, a empresa tem 57 carros circulando e cinco de reserva técnica, conforme exigido no edital. Com esse aumento da frota, houve um salto na quantidade de passageiros transportados de 14.000 para 15.600 diários. Esse valor é considerado um aumento significativo perante a escassez de passageiros encontrada pela empresa, que começou a operar durante a pandemia, quando eram transportados uma média de 9 mil passageiros por dia. Porém, a média de 15.600 mil passageiros diários, ou 450 mil mensais, ainda está longe do que a prefeitura ofertou em edital. Isso porque a planilha de cálculo de passageiros equivalentes feita pela Secretaria de Mobilidade Urbana e apresentada no edital da concorrência, previa uma média de 543.557 mil passageiros por mês, uma média de 18.118 passageiros diários. Em junho, o sócio administrador da empresa, Paulo Wagner, falou sobre o tema em plenário e reafirmou que a empresa oferta uma demanda melhor do que a solicitada no contrato com a prefeitura. “O contrato inicial exigia 87 veículos, então proporcionalmente, se a gente constatar o número de passageiros por veículo a gente tem uma oferta melhor que a do contrato. Se fossemos seguir pelo contrato, nós deveríamos estar proporcionalmente com pouco mais de 40 ônibus”, disse o gestor na época.
Em relação ao cumprimento de partidas, a empresa chegou a alcançar no mês de agosto o índice de 97,94% das 874 partidas diárias programadas, uma melhora de 9 pontos percentuais se comparado com a média de cumprimento do mês maio.
Início conturbado – A empresa teve um início conturbado na cidade, enfrentando um processo judicial mesmo antes de assumir as operações. Vencedora da licitação com a menor tarifa, a JTP assinou contrato em 22 de janeiro de 2020 e deveria ter assumido os trabalhos em julho, porém, um processo movido na época por um vereador da oposição travou a operação. Isso fez com que a JTP assumisse o transporte coletivo em 4 outubro do mesmo ano, fazendo com que a empresa tivesse que encarar a brutalidade letal da pandemia causada pela Covid-19, decretada em março daquele ano. No epicentro da Covid-19, a operação foi iniciada com 44 veículos e com uma média de passageiros bem inferior a esperada e a empresa teve que amargar um grande déficit logo no início dos trabalhos. Tendo em vista o alto investimento e aporte para manter as operações, a empresa fez uma série de pedidos de subsídio para a prefeitura, para conseguir manter o serviço.
Investimento, déficit e equilíbrio financeiro – Os investimentos da empresa em Bragança Paulista foram altos e começaram a ser feitos mesmo antes do início das operações, quando foram comprados 30 ônibus 0km e outros seminovos, todos dentro do solicitado contratualmente, além do aluguel e adequação do prédio que abriga a garagem. Ou seja, segundo Ferreiro, a empresa fez um alto investimento, baseado no número de passageiros apresentados pela prefeitura no edital e contrato. Porém, o número de passageiros mensais apresentado pela administração municipal não condizia com a realidade encontrada pela empresa quando começou a operar na cidade, principalmente em meio a pandemia. Segundo o executivo da JTP, nesse período a empresa transportava uma média de 9 mil passageiros diários, fechando o mês com no máximo 270 mil passageiros, mais de 300 mil a menos do previsto. O baixo número levou a uma série de aportes da empresa para manter a operação na cidade, causando um grande déficit financeiro. Já com pandemia mais controlada, o número de passageiros começou a aumentar gradativamente, porém se manteve longe do que foi prospectado pela Secretaria de Mobilidade Urbana. O gestor do contato revelou que a situação discrepante fez com que a empresa solicitasse, logo no primeiro semestre de operação, subsídio a prefeitura, tendo em vista que a prática é comum em várias cidades e capitais do país. “Tivemos uma série de investimentos adicionais ao que nosso fluxo de caixa permitia, não tínhamos mais como arcar com os sucessivos meses de prejuízo, entramos com pedidos de indenização e todos os meses protocolávamos o déficit financeiro da operação. Com os recebimentos de indenização e subsídio, a partir de julho de 2023, nosso fluxo de caixa está tomando fôlego e começando a se normalizar”, disse.
A indenização citada por André Ferreiro se trata de um pedido da empresa, visando o déficit tarifário causado pela pandemia do Covid-19, além do investimento da empresa em novos carros, aumento de insumos, funcionários e demais melhorias para a operação na cidade. O total pleiteado pela empresa e confirmado pelo munício foi de R$30.127.065,09, porém, com desconto concedido pela empresa, a JTP receberá o montante de R$ 15.5 milhões, sendo que R$ 5.5 milhões já foram pagos em 3 parcelas (janeiro R$ 2.5 mi; fevereiro R$ 2 mi; e março R$ 1 mi), além de cinco parcelas, das 17 prevista no apostilamento da indenização, no valor de R$ 588.235,29. Além disso, em 2022 também foi aprovada pela Câmara Municipal, o Projeto de Lei Complementar 21/2022, de autoria do prefeito Amauri Sodré, que autoriza o aporte mensal de recursos, quando necessário, para cobrir o déficit tarifário da empresa de transporte público de passageiros da cidade. Para se entender em números, o subsídio será formado pelo déficit no valor da tarifa, ou seja, quando o valor da passagem cobrada dos usuários for menor do que os custos reais da tarifa de remuneração, que é a soma dos insumos como óleo diesel, pneus, lubrificantes, salários, além do número de passageiros transportados e a quilometragem percorrida no mês. Atualmente o valor de remuneração por passageiro é de R$ 8,53 e a passagem cobrada do usuário é de R$ 4,50. O subsídio pago pela prefeitura é a diferença entre esses valores (R$4,03) multiplicado pelo número de passageiros. Porém, quando ocorrer o superávit tarifário, ou seja, quando a tarifa pública for superior à tarifa de remuneração, a empresa depositará o valor excedente ao Fundo Municipal de Trânsito.
Mesmo aprovado em agosto de 2022, a empresa começou a receber efetivamente o aporte financeiro em julho deste ano, por conta de liminares interpostas na justiça contra a medida aprovada na Câmara. Agora, com o início do pagamento, as coisas na empresa parecem estar normalizando e deixando, finalmente, a JTP mais próxima de encontrar o tão esperado equilíbrio financeiro. Porém, André Ferreiro afirma que para as coisas “estabilizarem” ainda falta um pouco. “Para chegar a cobrir o investimento inicial que fizemos tem um longo caminho, porém com o recebimento do subsídio nosso fluxo de caixa se tornou mais saudável. Fizemos o acordo de indenização que foi parcelado, foi aprovada a lei do subsídio. Agora começamos a estabilizar a operação. Lógico que ainda temos o déficit do passado, mas agora a gente entende que o caminho é uma curva ascendente para ter um atendimento de mais qualidade e de maior índice de satisfação por parte da população”, explicou.
Manutenção e Garagem – Ferreiro ainda falou sobre as melhorias nos veículos da empresa com a manutenção preventiva de dois carros por dia, o que levou a uma diminuição de mais de 80% dos incidentes que vinham acontecendo. Ele também revelou que em julho o número de SOS, quando o carro quebra durante o itinerário, diminuiu para 35 chamados, uma queda de 65% em relação a abril, quando houve 105 intervenções e de 20% em relação a maio, quando foram registradas 45 ocorrências. Além da manutenção preventiva periódica, uma das medidas que auxiliou nessa melhora foi a mudança no quadro de funcionários, dentre elas a contratação do Líder de Garagem, Ernandes Santos, é considerada peça importante para a melhoria da operação. O novo líder chegou à empresa em dezembro de 2022 e iniciou um processo de organização, plano de melhoria contínua, manutenção preventiva na garagem e a alinhar medidas a serem tomadas pelos motoristas, mecânicos e demais colaboradores. Após diversas reclamações sobre a forma como os funcionários da empresa agiam, principalmente durante a noite, a empresa fez um levantamento e os colaboradores que apresentavam maus comportamentos recorrentes e sinistros de trânsito, foram desligados. Feito isso, a JTP criou programas para os funcionários com a contratação de instrutores de ônibus, além de um profissional de educação no trânsito e uma psicóloga que fazem visitas periódicas à garagem para orientação dos colaboradores. Segundo Ferreiro, essas são medidas para tentar sanar ou pelo menos diminuir as reclamações dos moradores do entorno da garagem, bem como de todos os usuários do serviço. Ele ainda disse que o horário de abastecimento foi limitado, porém, explica que o veículo tem que ser abastecido, seja durante a noite, ao terminar o turno, ou no início da manhã, quando irá iniciar o itinerário.
Abrigos – André Ferreiro disse que a empresa foi notificada para a conclusão dos abrigos até o final de setembro, porém, em resposta a prefeitura, a JTP alegou que ainda não tem o equilíbrio financeiro esperado e que ainda se recupera do alto investimento feito na cidade, que supera o subsídio e a indenização recebidos do município. “Ainda não temos o equilíbrio financeiro, demos um desconto enorme na indenização, chegamos a esse acordo de desconto e a gente recebeu até agora dois meses de subsídio. Respondemos o ofício, informando que para construção dos abrigos precisamos de mais um tempo e enviamos um novo cronograma e aguardamos o retorno do aceite, que seria um novo cronograma de atendimento nos próximos doze meses, porque no momento estamos arcando com as prestações dos novos veículos e demais investimentos já comprometidos em nosso fluxo de caixa”, disse o diretor. Ele ainda revelou que os abrigos exigidos em edital têm um alto valor de custo e que além disso a empresa que os fabrica pede no mínimo 120 dias para a entrega após aprovação do pedido, o que já torna o prazo enviado pela Secretaria de Mobilidade Urbana, insuficiente para a conclusão. Além disso, André alegou que a JTP apenas entrega os abrigos para a SMMU e cabe ao secretário da pasta destinar, via secretarias de Obras ou Serviços, a instalação dos abrigos em seus devidos pontos.