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Home Caio Sales

Ururau da Lapa – Folclore Brasileiro

por Redação GB
setembro 5, 2025
no Caio Sales
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O histórico município de Campos dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro, traz em seu nome a lembrança do povo Goitacá, habitantes originários da região, tidos como guerreiros exímios e irredutíveis. Usando longos arcos e flechas de grande porte, tinham tanta destreza e precisão que alguns relatos mais grandiosos afirmavam serem capazes de disparar flechas até mesmo com as pernas, caso fosse necessário. Nos registros coloniais de Simão de Vasconcelos, consta que raspavam o cabelo no alto da cabeça, deixando a testa mais proeminente, enquanto volumosos fios caíam pelas costas. Outras descrições, porém, sugerem apenas que mantinham os cabelos longos e soltos, sem raspar.
Escrevo no passado, pois afirma-se que esse grupo foi dizimado, em uma constatação difícil de precisar, dada a intensa miscigenação que marca o país. Em conversa com a historiadora campista Sylvia Paes – que gentilmente fez uma leitura prévia deste texto –, ela destacou para mim que, com a invasão do período colonial, houve a fuga de aldeias para outras regiões e, portanto, pode-se considerar mais adequado afirmar que os Goitacá foram, na realidade, empurrados para o interior, o que acabou por intensificar esse processo de mistura entre povos.
Presume-se também que fossem bastante reservados quanto à própria cultura e sua língua, em provável ramo único dentro do tronco Macro-Jê. Por isso, a historiadora campista Rafaela Machado ressalta que boa parte dos registros conhecidos por nós sobre os Goitacá vêm do ponto de vista de seus inimigos – os povos tupi – e de cronistas europeus, podendo haver alguma deturpação. O próprio nome “Goitacá”, por exemplo, não era como se autodenominavam, e, sim, um termo tupi utilizado para se referir a eles como grandes corredores ou nadadores.
Esses indígenas aguerridos costumavam caçar em grupos, movendo-se pelas matas e campos abertos. Altos e de físico privilegiado, exploravam tais habilidades aquáticas e de velocidade em táticas de emboscada nos pântanos do que hoje é a região de Campos dos Goytacazes.
Inclusive, a rica natureza é outro destaque local. Caracterizado por seu relevo suave e extensas áreas alagadiças e brejais, o município oferece condições ideais para répteis como o jacaré, e se torna um cenário fértil para uma criatura lendária que resiste ao tempo e repousa nas profundezas das águas turvas: o Ururau da Lapa.
Sendo assim, é no rio Paraíba do Sul onde essa narrativa fantástica começa.
Em conversas com os atenciosos moradores, dentre as variações que ecoam pelos meandros da oralidade, conta-se que, por volta dos anos de 1700, uma bela moça, contida pelo resguardo elitista de seu pai, um poderoso latifundiário, tomou verdadeira paixão por um pobre rapaz. O qual, algumas línguas diziam tratar-se de um balconista de armazém e, outras, de um cortador de cana do tal barão do açúcar.
De qualquer forma, aquelas duas almas destinadas ao amor passaram a se encontrar às escondidas pela mudez do anoitecer. Não demorou para que olhares bisbilhoteiros flagrassem os jovens amantes e a notícia chegasse ao homem de terras. Tomado pela fúria e pelo preconceito, ordenou que seus comparsas matassem o inocente rapaz e o lançassem no rio Paraíba do Sul. E assim foi feito. Golpeado brutalmente e alvejado com tiros, ali fora jogado. Há também quem suspeite que foi o barão, e não seus capangas, o responsável pelos disparos e o despejo nas águas com a frieza das próprias mãos.
Bem ali, em frente à Igreja da Lapa, construída junto a um convento, o rio recebeu seu corpo, afundando com uma melancolia rubra até sumir. Então, as águas se revoltaram por justiça, rodeando em molde fantástico o afogado. O que emergiria naquele instante carregaria o inexplicável em cada segundo da sua nova existência. Ergueu-se, em imponência e alvoroço aquático, um réptil imenso e encouraçado, com mandíbula robusta de dentes copiosos. Seu aspecto era o de um gigantesco jacaré-de-papo-amarelo, em perpétua ânsia pela vingança e pelo reencontro com seu grande amor que, alguns dizem, teria sido internada no convento pelo pai até definhar em lamúrias.
A criatura ficou conhecida como Ururau da Lapa e passou a rondar as margens da chamada curva da Lapa, emergindo das águas com o ribombar do corpanzil atingindo a superfície e revirando embarcações. Certos registros acrescentam que, em sua incessante busca pela amada perdida, em noites de lua cheia, deslocava-se arrastando o ventre até o convento para levar consigo alguma jovem na esperança de ser quem ele realmente buscava, numa espécie de compulsão traumática.
No entanto, tempos depois, suas incursões encontraram uma reviravolta inesperada. Um sino de ouro foi encomendado para a igreja, ironicamente, pelo impiedoso barão. Então, naquele dia, um grupo de pessoas encarregadas de atravessar o sino não escapou da territorialidade e da eterna sede de revanche da criatura. Próximos de atracar, começaram a perceber uma leve agitação na superfície do rio, quando o Ururau da Lapa ascendeu com sua vastidão em investida, destroçando a embarcação e devorando seus tripulantes. O sino, porém, não chegou a tocar a torre sagrada, mas tocou as profundezas do rio Paraíba do Sul ao afundar seu esplendor dourado, levando consigo o próprio jacaré monstruoso. Reza a lenda que o sino aprisionou o Ururau para sempre no abismo fluvial; ou talvez apenas tenha se tornado morada da criatura da couraça coberta de limo, cujo despertar até hoje é temido.
A fama deste ser lendário é tanta, que a sua história popular naturalmente se altera ou recebe acréscimo de alguns detalhes. A origem do nome Ururau estima-se que venha de alguma das diversas línguas indígenas para se referir a algo como “jacarezão-do-papo-amarelo”, embora não haja precisão a respeito de ser uma narrativa de origem autóctone.
Outro local de narração lendária na região é a Lagoa Feia, localizada na divisa de Campos com Quissamã; apesar do nome, é um lugar muito bonito, onde há muito tempo, assim como no rio Paraíba do Sul, os Goitacá viviam em palafitas sobre suas margens.
A documentarista campista Carolina de Cássia obteve esse novo registro em 2024, ao entrevistar antigos moradores da comunidade de Muxuango, em Campos dos Goytacazes. Durante a conversa, conheceu a palavra “Arurau” e, com ela, a lenda de uma criatura com esse nome, que habitaria a Lagoa Feia. Aqui, o Arurau, com “A” mesmo, se configuraria como uma lenda distinta do Ururau da Lapa. Nessa narrativa, a criatura, descrita como um jacaré velho, enorme, cascudo, de olhos brilhantes e grandes dentes, engoliria as sombras e os objetos refletidos na água, sugerindo uma espécie de corruptela do outro réptil fantástico, com o jacaré figurando, mais uma vez, como símbolo de uma natureza indomável e, por vezes, assombrosa.
Se o Arurau da Lagoa Feia parece encarnar a projeção de uma questão existencial, quando retornamos ao Ururau da Lapa, acredito que sua lenda possa ser interpretada a partir de como a mais íntima opressão social pode desencadear uma série de falhas e ciclos de conflitos. Ainda assim, é inegável que tais narrativas despertam diferentes visões em cada indivíduo, refletindo a riqueza cultural presente no patrimônio imaterial que constitui os saberes de um povo.
É justamente graças ao povo que, ao longo dos anos, o Ururau da Lapa permanece preservado em cada rastro lendário da memória da valorosa cidade de Campos dos Goytacazes.

*
Por volta de 1700, um homem foi transformado em um jacaré gigante. Depois, pescadores e canoeiros passaram a ser aterrorizados pela criatura. Nos anos 1950, o monstro escamado foi documentado pelo folclorista Câmara Cascudo. Em 1976, sua lenda foi registrada em prosa e em cordel pelo jornalista e escritor Osório Peixoto. Três anos depois, em 1979, deu nome a uma agremiação carnavalesca do município: o Grêmio Recreativo Escola de Samba Ururau da Lapa. Em 2005, a peça de teatro “Auto do Ururau“, dirigida por José Sisneiros, ganhou o importante Prêmio Shell. Em 2014, a narrativa oral foi adaptada para a literatura infantojuvenil pelas autoras Sylvia Paes e Carmen Eugênia Sampaio Gomes, em “Ururau Pançudo” e, dois anos depois, por Roberta Givigi, em “O Ururau da Lapa (Assim me disseram)”. Em 2016, a lenda ganhou forma em grafite no dique do Rio Paraíba do Sul. Já em 2025, o ente folclórico tornou-se tema de um jogo de cartas e de uma história em quadrinhos desenvolvida por Vinícius Soares Freixo e João Paulo Miranda. Até hoje, além de ser difundida por tantos meios, também permanece nas escolas campistas como uma legítima expressão e resistência do patrimônio imaterial local.

Caio Sales é pesquisador, ilustrador e escritor, com atuação nos meios cultural e publicitário. É pós-graduado em Marketing e Inovação pela PUC-Campinas e, também, em Sociologia, História e Filosofia pela PUC-RS. Atualmente, é pós-graduando em Gestão Cultural e Indústria Criativa na PUC-Rio. Tem também qualificação internacional em Marketing e Comunicação pela Academies Australasia, em Sydney, na Austrália. É membro da Associação Brasileira dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror (ABERST) e da Associação de Escritores de Bragança Paulista (ASES). @caiosales_art

Tags: Caio SalesCampos dos Goytacazesfolclore brasileiroGoitacámitos e lendasUrurau da Lapa

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