Por Sarah Arruda
Em um Brasil onde a desigualdade e as dificuldades de manter uma vida digna vão além da simples sobrevivência, muitas vezes perdemos o olhar de esperança para o futuro, sendo preciso dar voz e visibilidade às boas causas. E por isso a ONG Reparação ganha seu espaço nesta edição.
Uma ideia que se tornou real há 12 anos em Bragança Paulista transformou a vida de 25 – e em breve 26 – famílias. E as razões são simples: um desejo coletivo de um grupo iniciado por Leonardo Finamor (fundador), ainda pequeno em 2013, de reformar, em apenas dois dias, moradias em situações extremamente precárias e despertar na sociedade a dignidade, ação voluntária e empatia. Hoje, a ONG conta com cerca de 120 voluntários, além da equipe organizadora com média de 30 integrantes e parte para a próxima ação nos dias 17 e 18 de maio, para reformar a casa de um rapaz que perseverou e conseguiu ter sua história selecionada pela organização.
E foi assim: com afinco, união, compaixão e ajuda de doações que o projeto segue e completou 7 anos como entidade pública pela Câmara Municipal. Em entrevista à GB com Daudt Vitório Junior, integrante da equipe e voluntário das ações, ele falou sobre importância desta declaração realizada em 24 de abril de 2018, contou que é um marco institucional importante para a ONG. “Esse reconhecimento fortaleceu nossa credibilidade perante a sociedade, órgãos públicos e possíveis parceiros, além de abrir portas para futuras possibilidades legais e administrativas, como a celebração de convênios e acesso a benefícios específicos. Mais do que um título, foi uma chancela da relevância social do nosso trabalho e um incentivo a seguir com ainda mais seriedade, responsabilidade e transparência.”, declarou.
Apesar do reconhecimento e árduo trabalho, a Reparação enfrenta desafios. Não há subsídio fixo – a ação depende de angariar recursos tanto para materiais de construção e outros itens, além de um plano — que precisa ser infalível — para que o mutirão entregue, em dois dias, o novo lar da família escolhida. Tudo isso sem abalar os princípios da organização.
A escolha – Para chegar em uma família que precise de auxílio imediato e siga os critérios exigidos pelo grupo, a Reparação tem parceria com a assistência social do município e as indicações podem ocorrer também através de terceiros. A equipe leva em consideração àqueles que por alguma razão não tenham condições financeiras, emocionais ou físicas para melhorarem as condições de vida em médio prazo. O único pré-requisito é que tenham posse da residência a ser reformada, e a partir disso são realizadas pesquisas, entre elas de ordem judicial, início das visitas aos pré-selecionados e então a captação das últimas informações para a seleção final.
Com um olhar além da tecnicidade das escolhas, entre obras e planejamentos, há a reforma além do que se vê. Daudt conta também sobre a emoção de poder transformar a vida de alguém. “A entrega das residências é sempre um momento profundamente emocionante. Mais do que transformar o espaço físico, sabemos que estamos reescrevendo parte da história daquela família. Ver a alegria e o alívio no rosto dos moradores ao entrarem em uma casa reformada — segura, iluminada, acessível e cheia de carinho — é algo que nos marca para sempre.
Como voluntário, posso dizer que cada entrega nos transforma tanto quanto transforma as famílias. Aprendemos sobre empatia, trabalho em equipe e, principalmente, sobre o poder real da ação coletiva. A Reparação tem esse dom: nos ensinar que juntos podemos fazer coisas extraordinárias.”
Intervenções como essa ajudam a diminuir a ansiedade e a depressão, além de gerar uma sensação de pertencimento e segurança. Essas questões são de extrema importância para a construção de uma sociedade mais digna, equalitária sem depender apenas do poder público.
Assistência – Com um vínculo forte entre os voluntários e a família, a equipe revisita os beneficiados pela ação, mas é algo que gostariam de melhorar. A ONG busca parcerias para o futuro com organizações ou entidades que façam o acompanhamento social e emocional.
REPARAÇÃO 26 – PERSEVARANÇA E SOLIDARIEDADE
O voluntário Daudt recebeu a pergunta sobre como chegaram à família que irá receber a próxima reforma no mês de maio. Uma história emocionante de esperança, e contada de maneira sensível. Por isso, segue na íntegra como ele nos retratou.
“Foi muito interessante você perguntar sobre isso. Tem uma história de esperança e perseverança por trás disso…
Às vezes, uma simples troca de palavras pode transformar destinos. Anos atrás, durante uma atividade rotineira de limpeza em nossa antiga sede, próxima ao Posto de Monta, um rapaz observava à distância, montado em sua bicicleta. Seu olhar era curioso, mas carregava algo mais profundo: esperança.
Movido pela vontade de acolher e compartilhar, um dos nossos organizadores se aproximou e puxou conversa. Com certa timidez, o rapaz revelou que conhecia o trabalho da Reparação e que estava ali sonhando com a possibilidade de um dia ver sua casa, onde vivia com os pais e a esposa, transformada por uma de nossas ações. Relatou, com simplicidade e verdade, as dificuldades que enfrentavam: os problemas estruturais da casa, as limitações financeiras e até o incômodo causado nos vizinhos pela condição do imóvel.
Foi orientado a inscrever sua residência para uma possível futura Reparação. Ele seguiu o conselho e deu entrada no processo. Naquele momento, contudo, após a avaliação social, sua casa não foi selecionada.
Mas ele não desistiu.
Ao invés disso, passou a se fazer presente em quase todas as ações da Reparação. Lá estava ele, no bairro do Menin ou nas regiões mais afastadas como próximo da represa — sempre com sua bicicleta, acompanhando cada etapa, se aproximando da equipe. Em algumas ocasiões, chegou até a pernoitar nas obras, protegendo os espaços e zelando pelo andamento tranquilo das ações.
Sua dedicação silenciosa e constante tocou a todos. E foi justamente essa postura resiliente, respeitosa e comprometida que motivou um novo olhar sobre sua realidade. Agora, com a ausência da mãe, que havia falecido, e uma mudança no contexto familiar, sua casa foi reavaliada por uma nova equipe — e aprovada.
Em 17/05/2025 essa história ganhará um novo capítulo: a casa desse rapaz será o cenário da Reparação 26.
É sobre isso que falamos quando dizemos que a Reparação não transforma apenas casas. Ela transforma vidas. E, às vezes, tudo começa com um simples olhar — e a coragem de sonhar.”
As realizações da ONG e de seu grande grupo de voluntários mudaram a vida de muitos bragantinos e para além disso, inspiradas em dividir a bondade outras instituições seguiram os passos da Reparação. Segundo o site da ONG, as entidades Renovação (Pará de Minas-MG), Semeando (Itupeva-MG), Edificar (Campo Mourão-PR), Casa Real (Lorena-SP), Reformular (Itatiba-SP), Projeto Mão na Massa (Primavera do Leste-MT), Doce Lar (Campinas-SP), Re.Juntar (São Paulo), Melhor-ação (Cosmópolis-SP) e Reconstruir (Indaiatuba-SP) foram fundadas inspiradas neste ideal, a partir do Programa de Observadores da Reparação.
Os que querem replicar o projeto, vem à Bragança Paulista para aprender junto aos voluntários e equipe quais ações devem tomar para pôr sua ideia em prática em outros municípios Brasil a fora.
Doações – Para os interessados em ajudar nesse projeto, basta fazer uma doação direta à conta disponível no site www.reparacao.org.br/doe . E reforçando que para a obra da Reparação 26, a ONG ainda aceita contribuições. Para mais informações, os meios de contato são: (11)4035-0345; (11)99864-4933 ou contato@reparacao.org.br. A sede está localizada na Rua Major Fernando Valle, 815, na Vila Mota.
A história da Reparação e de tantos projetos e ações sempre merecerão um lugar de reconhecimento. Afinal, se dispor a ajudar a mudar a vida de alguém é um ato de humanidade.
“Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só.
Mas sonho que se sonha junto é realidade.”
(Raul Seixas e Paulo Coelho)