WAGNER AZEVEDO
Você já deve ter ouvido alguma pequena narrativa a respeito. Como ocorre com os ditos populares, há versões diferentes, mas fato é que “nem Deus salva quem não quer ser salvo”. De alguma maneira, a crença leva ao senso comum de que Deus, a tempo todo, lança cordas, troncos ou outras metáforas que representam as oportunidades que a vida nos entrega para nos safar das situações ruins. Para os momentos em que estamos nos afogando nos rios da existência. Tantas vezes não vemos e um dia talvez Ele próprio nos diga que fez de tudo, mas que faltou a nossa própria vontade.
Deus não salva quem não faz nada para ser salvo. Isso faz parte de uma reflexão, fruto de um diálogo que tive com um amigo.
Ele me lembrou que não há como ajudar quem não sabe ou não quer ajuda. Há quem não admita que precisa por vergonha talvez, de expor a fragilidade ou orgulho ao revelar estar necessitado. É preciso deixar claro a nossa prontidão ao próximo e estar a serviço, mas diante da negativa o melhor mesmo é se afastar.
Um dos grandes equívocos das pessoas é achar que o amor permite tudo ou suporta tudo, sem que seja necessário impor limites. Outra mística sobre ajudar alguém vai de encontro a confusão que isso cria. Ajudar não é tirar à força o outro da situação em que se encontra, livrando-o do sofrimento. Acabei aprendendo que ajudar, muitas vezes é não ajudar. Permitir que o próximo pague o preço das suas escolhas e atos, pois a medida que vou blindando o outro, acabo por atrapalhar o processo natural de aprendizagem.
Pais que criam filhos em cúpulas, comprometem seu crescimento e amadurecimento. Os filhos se desenvolvem adultos despreparados emocionalmente. A vida continua sendo a arte da semeadura, mas quando colhemos frutos amargos, quase que imediatamente temos a tendência de culpar e responsabilizar Deus, o destino, a família que não nascemos, a estatura que não temos, a condição social que não conquistamos e até o casamento que poderíamos ter feito.
Já deixei de passar a mão na cabeça de muita gente e permiti que pagassem o preço da cabeçada. Claro, sempre deixando claro que estou ao lado para quando quiser ou for necessário. O peso das escolhas só pode ser sentido por quem está escolhendo. Eu mesmo, se não fizer caminhada, comer menos coisas gordurosas e tomar bastante refrigerante, estarei fazendo a escolha de chances gigantescas de sofrimentos a médio prazo com problemas de saúde e uma vida abreviada.
No meu caso, vou estar atento aos sinais de Deus e não deixar que passem de forma que eu não me salve por distração. Então Deus, estou aqui. Fique à vontade para me salvar!