Por Ana Paula Alberti
Há 521 anos o brasileiro sabe o que é desigualdade social. O Brasil sempre teve essa problemática escancarada e pouca ação efetiva para que o problema seja sanado. Com dimensões continentais, o país sofre hoje com 14,4 milhões de desempregados, o equivalente a 14,2 % da população. Os dados do IBGE mostram o aumento do desemprego nos últimos dois anos: em 2019 a taxa de desemprego era de 11,9% e no ano passado, 13,5%. Claramente a pandemia da Covid-19 agravou o desemprego e a consequência disso ainda reflete agora em 2021, com o aumento da desigualdade social que continua crescente e notória pelas ruas dos municípios brasileiros.
Em Bragança Paulista, com população estimada em 170 mil, também se vê nas ruas o reflexo da pandemia que, infelizmente, ceifou 589 vidas, e também deixou um número muito maior que esse de desempregados.
O que se vê em um momento em que a vida está quase voltando à rotina do mundo pré-pandêmico, é o aumento de pedintes pelas ruas bragantinas. Em cada farol, saída de supermercado e farmácia há alguém na mendicância, pedindo qualquer tipo de ajuda, seja em dinheiro ou alimento. A situação está se agravando, pois além dos pedintes, há vendedores ambulantes sempre ofertando um doce, uma água, panos de prato e de chão, etc. A realidade é triste, mas a orientação do Poder Público é não dar esmolas.
Procurada pela reportagem da GB para falar sobre as políticas públicas para combater a mendicância pelas ruas da cidade, a Secretaria Municipal de Ação e Desenvolvimento Social, explicou como funciona a Campanha permanente “Não dê Esmola” adotada pelo município, que segundo a pasta é feita periodicamente através de panfletagem em áreas de maior incidência, orientando a população de como proceder para ajudar de fato os pedintes.
O que fazer? – “Diante da atual situação do país, pós-crise financeira atrelada ao Covid-19, houve em todo mundo aumento de pessoas em vulnerabilidade social, o que reflete também em nosso município”, diz a nota emitida pela SEMADS. A orientação para ajudar os pedintes é entrar em contato com a Abordagem Social por meio do Centro Pop através dos telefones 4032-6400 e 94319-3739. A partir daí uma equipe deve ir até o local para realizar e identificar as pessoas, ofertando os serviços de acolhimento. No caso de pessoas residentes em Bragança Paulista, são encaminhados para inclusão de programas sociais e demais serviços de assistência. Para os que não são do município é ofertado o atendimento psicossocial e os encaminhamentos que são necessários, entre eles passagem ou recâmbio para o município de origem.
Segundo a SEMADS, os serviços do Centro Pop e Abordagem Social possibilitam a acolhida na rede sócio assistencial, contribuindo para construção de novos projetos de vida e na redução e prevenção de isolamento social, através do atendimento psicossocial, busca ativa, visita domiciliar, escuta qualificada, acompanhamento especializado, higiene pessoal, alimentação, passagem e articulação em rede.
A população deve entrar em contato pelo telefone em horário de atendimento presencial do Centro Pop que é de segunda a sexta das 7h30 às 17h e da Abordagem Social é de segunda a sexta das 7h30 às 21h e aos sábados das 8h às 12h.
“O serviço de acolhida na Casa de Passagem Municipal ‘Albergue Maranata’, realizado por meio de busca ativa ou demanda espontânea, acompanhada pela equipe técnica que realiza o trabalho psicossocial no resgate da dignidade da pessoa humana, oferta respaldo e potencializa as oportunidades para que o usuário possa romper com a situação de rua e suas vulnerabilidades sociais”, diz a nota da Secretaria.
Questionada, a pasta não informou se há dados sobre a quantidade de pessoas que hoje estão em situação de mendicância na cidade, nem sobre a situação de crianças que, por várias vezes, a reportagem flagrou nos faróis vendendo doces. Sobre os ambulantes, a fiscalização cabe ao setor de Projetos e Posturas da Prefeitura.
Segurança – Recentemente a reportagem foi procurada por leitor que relatou agressões verbais e materiais por parte de alguns pedintes, fato que ocorreu na confluência da Rua Felipe Siqueira com a Av. dos Imigrantes. Na oportunidade, por volta das 18h30, uma mulher que estava com 2 crianças, ao ser abordada por um pedinte e negar o dinheiro, foi agredida verbalmente e ainda assistiu ao homem bater em seu carro.
O segundo fato ocorreu, na Av. dos Imigrantes no farol de acesso à Av. Plínio Salgado, sentido Câmara-Lavapés, quando outra mulher foi abordada por outra mulher, uma senhora idosa que pediu dinheiro e ao ser negado, xingou a motorista com palavras de baixo calão.
Essa questão de pedintes também pode se tornar um problema de segurança pública. A respeito, a Secretaria Municipal de Segurança e Defesa Civil informou que “não tem recebido reclamação sobre agressões verbais por parte da população e quando isso se constata, a Guarda Civil Municipal aborda, qualifica e se for o caso conduz para a Delegacia Policial”, disse em nota.
Enquanto isso, a desigualdade cresce escancaradamente e mais vez a população paga a conta de quem deveria prover essas pessoas.