Normalmente abordamos a violência doméstica, aquela violência que envolve relacionamento amoroso, que é uma das maiores causas de feminicídio em nosso país, mas tão importante quanto a questão doméstica é a violência familiar, aquela que envolvem mães, filhos, irmãos, irmãs, netos e netas, entre outros, uma violência cruel é prolongada se arrastando por anos com a esperança de que o agressor irá melhorar o seu comportamento.
Esse tipo de violência atinge profundamente as vítimas, causando lhes graves danos emocionais e até psiquiátricos, fazendo com que demorem muito para procurar ajuda e assim se perdem entre o amor que sentem pelos agressores e a vulnerabilidade em que se encontram. Esses agressores quase que em sua totalidade são dependentes químicos e não querem atendimento médico para sair desse quadro, mas ao mesmo tempo não deixam o ambiente familiar, onde se torna fácil conseguir meios para manter o vício.
O dilema dessas mulheres se dá pelo fato de que apesar de não poderem mais viver sob as condições insalubres e violentas que se torna o mundo de um usuário, não querem ver esses agressores presos. Quantas vezes em um flagrante, as vítimas preocupam protege-los, levam chinelos, roupas e comidas para eles, choram e se sentem culpadas. E esse comportamento não se dá porque gostam de apanhar, mas porque são mães e mesmo sofrendo o instinto e o amor que sentem pelos causadores dessa dor, é imenso.
Com o passar do tempo, além de psicológica e patrimonial, a violência passa a ser física, não é incomum encontrar idosas que após anos de sofrimento passam a sofrer agressões físicas e até abuso sexual praticada pelos próprios filhos.
E quando acabam presos, tão logo o agressor deixe a cadeia, na grande maioria dos casos, será acolhido por essa vítima, que acredita em uma mudança milagrosa de comportamento e ela tem o direito de recebê-lo de volta, devendo estar amparada por familiares e amigos para quando recomeçar o ciclo da violência, não se sinta sozinha, nem envergonhada em buscar ajuda.
Esse ciclo da violência adoece a vítima e afasta a família, que não entende a proteção que ela cria em torno do agressor. Uma mãe, após longos anos nesse ambiente e já sem forças até para se manter de pé, enfim, tomada pela demência é acolhida em um abrigo qualquer para que seu corpo termine seus dias. Exemplos como esse infelizmente passa a fazer parte do cotidiano de quem trabalha com a violência.
Sejamos empáticos e solidários, para que todos, como sociedade, família, comunidade religiosa, instituições públicas ou privadas, possamos apoiar e amenizar o sofrimento de tantas mulheres, mães que sofrem, mas também amam seus filhos e filhas. Que possamos pensar em soluções que vão além da prisão, medidas de acolhimento humanizado em todos os casos de violência e quem sabe daqui há alguns anos deixaremos tanta dor para trás.
Carmelita de J. Valença – é graduada em História e tem pós-graduação em Violência Doméstica