É comum um agressor ou agressora, ver ou ouvir uma história de agressão física ou psicológica envolvendo outras pessoas e ficar indignado, muitas vezes pede justiça para casos alheios. Pois não é fácil reconhecer que nossas ações podem ser violentas contra alguém que está próximo de nós, muitas vezes alguém que amamos.
Sempre encontraremos uma justificativa para nossas ações… “Ela me traiu, sempre amei aquela mulher e ela me traiu com outro macho”, “Eu trabalhava em dois empregos para cuidar da minha família, mas chegava em casa e ela não tinha feito suas obrigações, só de conversinha com aquelas amigas solteiras, a Sra. acha certo? ”
Discursos como esses são comuns de se ouvir, quando falamos com os agressores e pasmem! Esse discurso convence até mesmo a vítima, que acredita ser ela a causadora das agressões. E se até mesmo ela, quem sofre, acredita, quem dirá a sociedade.
Tomemos por exemplo os últimos casos que causaram comoção na mídia. Se observarmos o desenrolar dessas denúncias, veremos que após serem denunciados, os autores contra-atacam, e buscam desonrar a vítima ou sua conduta, e ao vasculhar a vida da mulher e mostrar que ela não é pura, meiga ou uma Sra. respeitável torna-se o fato da agressão aceitável e não se fala mais nisso. Como se para ter o direito de viver sem violência a mulher tenha que ser pura e digna.
Aí está o papel da mulher na formação do gênero.
Ora, devemos respeitar todas as mulheres, não pelo fato de serem mulheres apenas, mas pelo fato serem seres humanos, tal qual são os homens, as crianças e os idosos. Merecemos o respeito e se algo não agrada em qualquer tipo de relação, a outra parte tem todo direito de tomar suas atitudes e até romper, mas não tem o direito de agredir ou humilhar.
As leis vigentes em nosso país vêm corrigir as relações desiguais que por décadas foram normatizadas e legitimadas pelas leis anteriores. E as campanhas, como Agosto Lilás – semana da não violência contra a mulher – não deixarão o tema cair em esquecimento e quem sabe chegará o dia em que não precisaremos tratar de grupos vulneráveis, porque seremos todos seres humanos e construiremos assim um mundo mais seguro, justo e saudável.
Carmelita de J. Valença – é graduada em História e tem pós-graduação em Violência Doméstica