Medida pode evitar mais de 160 mil mortes; coronavírus chega a cem cidades e 400 hospitais paulistas, e total de óbitos cresce 180% em uma semana
O Governador João Doria informou em seu pronunciamento diário a prorrogação por mais 15 dias da quarentena em todos os 645 municípios de São Paulo, até o dia 22 de abril. A decisão foi tomada após reunião com 15 médicos do Centro de Contingência do coronavírus, que apontaram que o contágio já chegou a cem cidades paulistas e mais de 400 hospitais públicos e privados. Projeções apontam que prolongar o distanciamento social pode evitar mais de 160 mil mortes em todo o Estado.
“A prorrogação da quarentena será feita por mais 15 dias, do dia 8 até o dia 22 de abril, em todo o Estado e pelas razões que foram largamente expostas por cientistas, médicos e especialistas. Prefeitas e prefeitos terão o dever e a obrigação de seguir a orientação do Governo do Estado. Isto é constitucional, não é uma deliberação que pode ou não ser seguida”, afirmou o Governador.
“Nenhuma aglomeração de nenhuma espécie em nenhuma cidade de São Paulo será admitida. As Guardas Municipais ou Metropolitanas deverão agir e, se necessário, recorrer à Polícia Militar para que imediatamente possa haver a dissipação de qualquer movimento ou aglomeração de pessoas. Esta é uma deliberação que deverá ser rigorosamente seguida pela população do Estado de São Paulo na defesa de suas vidas e de seus familiares”, acrescentou Doria.
O número de mortes pela COVID-19 entre 17 de março e 5 de abril já é quase igual ao total de óbitos por gripe registrados ao longo de todo o ano passado. As internações de pacientes com a confirmação da doença em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) cresceram 1.500% desde 20 de março, passando de 33 para 524, no último dia 3. As mortes subiram 180% em uma semana.
Para tentar conter o avanço dos casos, que já está lotando hospitais, o Governo do Estado determinou a prorrogação da quarentena por mais 15 dias. A recomendação é que as pessoas fiquem em casa. Os serviços considerados essenciais continuam em funcionamento, como nos primeiros 15 dias da quarentena.
A decisão segue orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde), da Opas (Organização Pan-americana de Saúde), do Ministério da Saúde e do Centro de Contingência do coronavírus de São Paulo, formado por epidemiologistas, cientistas, pesquisadores, infectologistas e virologistas sob a coordenação do médico David Uip.
Conforme projeção do Instituto Butantan, centro de pesquisas biomédicas vinculado à Secretaria de Estado da Saúde, a prorrogação da quarentena pode evitar 166 mil óbitos em São Paulo, além de 630 mil hospitalizações e 168 mil internações em UTIs.
A extensão da quarentena também é importante para que o Estado organize a rede pública de saúde ao número crescente de doentes. Já foram ativados 1.524 novos leitos de UTI em hospitais estaduais, municipais e filantrópicos.
Cenários – O cenário epidemiológico de São Paulo em relação ao coronavírus é, no momento, melhor que em relação a outros países. O Governo do Estado decretou quarentena apenas 26 dias após o primeiro caso, quando havia 810 infectados e 22 mortes. Com isso, a curva de casos apresentou tendência de achatamento.
Na Itália, por exemplo, a quarentena foi decretada 49 dias do primeiro caso, já com 47.021 casos e 4.032 mortes, e mesmo assim a curva de contágio continuou crescente. O mesmo ocorreu na Espanha, onde a quarentena começou 45 dias depois do primeiro caso, quando havia 11.826 casos e 533 mortes.
Em São Paulo, o distanciamento social está ajudando a aliviar a transmissão de casos. As pessoas estão tendo menos contato entre si e, com isso, a taxa de contágio por COVID-19 caiu. Segundo estudo do Instituto Butantan em parceria com o Centro de Contingência, de acordo com os dados epidemiológicos disponíveis, antes das medidas de restrição, a velocidade de transmissão do vírus era de uma para seis pessoas. No dia 20 de marco, esse número caiu para uma para três. No dia 25, já era de uma para menos de duas. Mas somente quando a taxa for menor do que um para um poderá se dizer que a epidemia foi controlada.