Tenho repetido qual mantra, que a ética é a matéria-prima de que o Brasil mais se ressente. Ocorre que existe outra coisa que, estivera presente no Brasil e no mundo, tornaria a ética supérflua. O que seria?
É aquele sentimento de que já se disse mover o sol e as demais estrelas. Algo tão presente na poesia, na literatura, na religião, na filosofia e no romance, tão difícil de se encontrar na prática.
Goethe, em “O Fausto”, adotou como lema do protagonista “Cuidado com o amor”. Nesse livro, o diabo Mefistófeles afirma, com propriedade: “Amor seria sem mim breve clarão, ato ingênuo…Que seria do Amor sem a Serpente que fala? Uma monótona e periódica combinação dos sexos de acordo com a história natural”.
Em “Meu Fausto”, Paul Valéry abordou a luta entre amor e conhecimento. Narrou o drama dos homens que sabem tudo, menos amar. Quando um grupo de fadas oferece a Fausto devolver-lhe o dom adolescente da paixão, ele responde: “Meu espírito soberbo aboliu o desejo”. E acrescenta: “Sei demais para amar, sei demais para odiar, e estou farto de ser uma criatura”.
Há várias formas de amor, tão exploradas na filosofia. O ágape, o Eros, o filia. Mas não se vive sem amor. A existência de cada ser humano é fundamentalmente confirmada pelo olhar do outro. Só existimos, ou começamos a existir, quando o outro nos vê. Um vivente só se torna uma pessoa por causa dos outros.
Amar faz parte da genética humana. “Não concebo que aquele que não tem necessidade de nada possa amar alguma coisa; não concebo que aquele que não ama nada possa ser feliz” (Rousseau). Somos seres dependentes do amor.
Toda espécie de amor ainda existe e é o que salva a coexistência. Amor próprio, amor pelo próximo, amor pela natureza, amor a Deus. Luc Ferry, o filósofo ainda jovem que tem escrito sobre o amor, sustenta que esse vínculo entre pais e filhos, pode ser o caminho da redenção da humanidade. Enquanto houver alguém disposto a oferecer sua vida por outrem, a espécie não corre o risco de ser considerada um projeto fracassado.
Quanto investimos em amor nesse mundo tão sequioso dele?