Para os atletas das provas de arremesso e lançamentos, que precisam de grandes espaços e medidas de segurança para treinar, as dificuldades aumentaram com a pandemia da COVID-19 e o isolamento social causado pela doença. Além do setor, piso necessário para os giros, o peso, o disco, o dardo e o martelo são implementos que viajam a longas distâncias, de 20 a 80 metros, e precisam de espaço para aterrissar. O atletismo do Brasil tem uma geração talentosa nas provas de campo, que sonha com bons resultados.
Darlan Romani, recordista sul-americano (22,61 m), campeão pan-americano, 4º no Mundial de Doha-2019, 3º do mundo no arremesso do peso pelo ranking da World Athletics (1.442 pontos), treina com o cubano Justo Navarro. Tem a companhia de Geisa Arcanjo (ambos são do Pinheiros) nas atividades realizadas no “CT do Darlan” – o próprio atleta construiu uma área de arremesso, em cimento, para os giros e os arremessos, em um terreno baldio ao lado de sua casa, em Bragança Paulista, interior de São Paulo. Na única prova que fez na temporada, no Torneio FPA, em março, antes da paralisação das competições, Darlan arremessou bem – 21,52 m, em Bragança.
“Está difícil, mas o peso ainda é mais fácil porque a distância é mais curta. Mas a dificuldade é para todos”, afirma o treinador João Paulo Alves da Cunha, de Fernanda Raquel Borges Martins (lançamento do disco), Eloah Scramin (dardo), Izabela Rodrigues da Silva (disco), Valquiria Meurer (disco), Guilherme Moreira Martins (dardo) e Wellington da Cruz Filho (disco), todos do IEMA, e ainda Douglas Junior Reis (disco) e Jucilene Sales de Lima (dardo), os dois da Orcampi. Fernanda é casada com o ex-atleta João Martins que tem o filho Guilherme, também lançador. O grupo consegue lançar num campo em Itapecerica da Serra (SP) e tem musculação em casa. A Eloah e o Douglas – 1º do Ranking Brasileiro de 2020 (60,79 m) no disco e 2º em 2019 (58,10 m) – estão treinando em Oswaldo Cruz (SP) e também têm espaço para lançamentos. “Os demais vivem em cidades da Grande São Paulo e se viram como podem. Todos estão mantendo a forma física, mas nem todos têm a mesma facilidade para trabalhar com os implementos. Temos um plano de todos estarem bem em dezembro deste ano, já pensando em 2021 também”, afirma João Paulo.
O treinador observa que Fernanda, que tem como melhor marca 64,66 m (2018), já lançou 62,37 m, em março, em São Bernardo do Campo, e está em 10º no ranking mundial do lançamento do disco (1.243 pontos), estava “99% qualificada para a Olimpíada” pelo Ranking de Pontos quando as atividades foram paralisadas por causa da pandemia da COVID-19.
“Pelo que ela vinha fazendo a gente esperava por um bom resultado este ano”, afirma João Paulo. Observa ainda que Jucilene (1ª colocada no ranking de 2020 no dardo, com 59,51 m) e Izabela (2ª no disco, com 60,15 m) poderiam se classificar pelo ranking ou fazendo o índice. “Mas mantenho essa minha expectativa com relação a isso. Elas estavam vindo de sequências boas de treinos e resultados. Competição faz falta, mas vamos voltar a competir assim que o calendário permitir e manter o foco em dezembro. Confio em bons resultados.”
Por causa da COVID-19, a World Athetics (WA) já definiu que os índices olímpicos começam a valer novamente somente a partir de 1º de dezembro de 2020.
Para os atletas do grupo das provas de lançamentos e arremesso da Orcampi, o treinador Sinval de Oliveira antecipou o recesso, que seria após o Troféu Brasil, em maio, para as primeiras semanas da quarentena. E agora já está voltando com os treinos. “Eles vão cumprir a planilha na íntegra, com preparação física, mas também educativos de lançamentos e arremesso. Fiz vídeos com os exercícios e coloquei no youtube. Também temos aulas por Skype e Zoom para correções online.”
Entre os atletas treinados por Sinval estão Rafaela Torres Gonçalves, 3ª no ranking de 2020 do dardo (54,77 m), Lidiane Cansian, 4ª no disco em 2019 (56,60 m), Ralf Rei Airton de Oliveira, 4º em 2019 (68,81 m) e 3º em 2020 (67,01 m) no martelo, e William Braido, 4º em 2019 (18,32 m) e em 2020 (18,98 m) no arremesso do peso.
Ricardo Barros, do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP-SP), que orienta alguns destaques das provas de campo como Allan Wolski, número um no lançamento do martelo do Brasil, Keely Medeiros (peso), Welington Morais (peso) e Anna Paula Magalhães Pereira (martelo), todos atletas do Pinheiros, disse que está revendo a programação a cada três semanas. “Mas está difícil. Alguns conseguem treinar em casa ou numa praça, sempre com muito cuidado e em isolamento”, comentou.
Para os lançadores do martelo as dificuldades são ainda maiores. Allan da Silva Wolski – 1º do Ranking Brasileiro em 2020 (70,94 m) e em 2019 (73,51 m) – teme comprometer o ciclo olímpico. Eles dependem de grandes espaços, de gaiolas, do implemento. “Infelizmente não estou conseguindo me manter dentro dos padrões atléticos desejáveis, pela falta de material para fazer força e de local para lançar”, disse Allan que vive em São Paulo, capital. “É difícil encontrar algum local vazio onde eu possa executar os giros ou até mesmo lançar próximo. Tentei ficar na praia para fazer algo mais específico, mas infelizmente não consegui – a Guarda Municipal sempre vinha para me tirar da areia.”
Flavio dos Santos Silva é treinador de Willian Denilson Dourado, campeão sul-americano do peso indoor e número 2 no Ranking Brasileiro, e de Alencar Chagas Pereira, recordista brasileiro Sub-20 e Sub-23 do martelo, que são da ARPA, de Rio Preto.
“O Willian tem uma academia na casa de um amigo e pode fazer musculação. A parte técnica e educativa está restrita pela falta de local. Não pode ir a campo pelo risco de ser preso. O Alencar, que mora e estuda nos Estados Unidos, também consegue fazer musculação. A universidade está fechada e ele não pode voltar para o Brasil pelo risco de não poder viajar mais para lá depois”, comenta Flávio. Fonte: Cbat