Ação certeira da Delegacia de Investigações Gerais – DIG, no início da noite de terça-feira (10), terminou com a prisão de um casal de estelionatários especialistas em aplicar o golpe conhecido como “Tela Aberta”. A suspeita é que tenham aplicado mais de 20 golpes em Bragança Paulista, e a polícia também investiga golpes semelhantes em municípios da região.
A prisão aconteceu graças a intensa investigação da equipe da especializada, sob a batuta do delegado Dr. Henrique de Paula Rodrigues, e ao alerta emitido pelo monitoramento da cidade, que “apitou” quando o veículo dos golpistas entrou na cidade. Estelionatário e amante foram em cana logo após tentarem aplicar o golpe em uma senhora de 65 anos, dentro de uma agência bancária na avenida José Gomes da Rocha Leal. O golpista, identificado como Marcelo S. R., de 43 anos, foi reconhecido pelas vítimas como quem as abordava dentro da agência e realizava a operação. Sua amante, identificada como P. R. B. P. A., de 27 anos, é apontada como a “olheira”, que ficava do lado de fora da agência para observar e fazer a segurança de Marcelo e avisá-lo a qualquer movimentação. Eles são residentes do bairro de Heliópolis, em São Paulo, e vinham regularmente a cidade para aplicar o golpe.
O delegado titular da DIG, Dr. Henrique de Paula Rodrigues, recebeu a reportagem da GB na noite da prisão e falou sobre a importância de que possíveis vítimas compareçam a delegacia para reconhecer o autor. “O autor é contumaz nesse crime,já foi preso outras vezes, a última em julho deste ano. Ele é investigado em cerca de 20 casos deste golpe apenas em Bragança Paulista. A presença dessas vítimas na delegacia é importante para o reconhecimento para que, caso seja reconhecido, ele não saia impune após cometer tantos golpes”, disse.
A GB apurou que várias vítimas já foram intimadas para realizar o reconhecimento fotográfico do golpista. A Polícia Civil ainda alerta para que pessoas que tenham sido vítimas do golpe da “Tela Aberta”, e não tenham registrado ocorrência, compareçam a delegacia para registrar o fato.
O golpe – Os golpistas eram investigados há alguns meses pela especializada, que notou um aumento significativo nas ocorrências de estelionato na cidade. Em ação conjunta com o setor de segurança do banco, os tiras da especializada conseguiram notar pelas imagens de segurança que o autor era um homem de meia idade, pardo, ‘gordinho’. Eles apuraram que o golpe “Tela Aberta” era aplicado apenas nas agências do banco Bradesco. Os tiras apuraram que o golpe consiste na expertise e agilidade em ludibriar a vítima, que são em sua maioria idosos e pessoas com menos conhecimento tecnológico. O primeiro passo da dupla era monitorar uma agência do banco e observar quando um idoso entrava no local,e neste momento, o estelionatário entra, enquanto a amante fica do lado de fora observando a movimentação, o alertando sobre a possível chegada da polícia. Dentro da agência, o golpista observa a movimentação da vítima e aguarda ela finalizar a transação. Quando a vítima se dirige para sair da agência, o estelionatário a chama de volta e diz que se ela não inserir o cartão novamente seu cartão será bloqueado. Pela falta de conhecimento tecnológico, as vítimas, geralmente pessoas simples que acreditam estar recebendo ajuda e não imaginam as reais intenções do indivíduo, seguem suas orientações, retornam ao equipamento e inserem o cartão. Nesse momento, o estelionatário realiza empréstimos e faz transferências para outra conta, finalizando o golpe. A ação é tão rápida que nem mesmo na ação conjunta haveria tempo hábil para a abordagem.
Identificação – A identificação do golpista aconteceu no domingo, dia 8 de outubro, quando o mesmo voltou à agência bancária na avenida José Gomes da Rocha Leal, para aplicar o golpe. Cientes de que ele estava na agência, os investigadores, juntamente da Guarda Civil Municipal se uniram para prender o marginal em flagrante, porém, o golpista demorou apenas 6 minutos para concluir e quando as viaturaschegaram, ele havia deixado o local. Nesse golpe, ele conseguiu R$ 2.500,00 da vítima. O que ele não sabia é que suas escapadelas com a amante para cometer golpe estaria chegando ao fim. Isso porque imagens de câmeras de segurança das redondezas conseguiram capturar o carro que usava, uma Fiat/Strada Adventure, Cabine Dupla, 2001 de cor preta, placa de São Paulo, FYG9I80. O carro ainda figurava em outro boletim de ocorrência de estelionato, como sendo o veículo que o autor usou para deixar o local.
Com a identificação do veículo, o próximo passo foi para a identificação do proprietário e foi aí que os tiras da especializada conseguiram desvendar o mistério. Através de trabalho árduo de inteligência e acesso à informação eles constataram que o dono do veículo possuía características físicas semelhantes ao autor dos estelionatos registrados nos últimos meses.
Em pesquisas, descobriram que Marcelo é um especialista em estelionato possuindo passagens criminais por ter praticado o golpe da “Tela Aberta” em outras agências do Banco Bradesco. Sua última prisão em flagrante foi no dia 15 de julho deste ano, porém, pela fragilidade do judiciário, foi solto no dia seguinte.
Porém, para liga-lo aos crimes cometidos aqui, a Polícia Civil precisava de uma identificação positiva de uma das dezenas de vítimas que ele fez. E foi justamente o que aconteceu. Uma das vítimas, um idoso de 63 anos, foi até a delegacia e reconheceu Marcelo como o homem que o ajudou no caixa, disse que teve dificuldade para utilizar o caixa eletrônico e o golpista se aproximou e ofereceu ajuda. O marginal digitou várias teclas rapidamente e deixou o local. Mais tarde a vítima notou que o golpista fez um saque de R$ 1.500,00 e um empréstimo de R$ 800.
Alerta, golpe final e cadeia – Com a identificação, os investigadores da DIG solicitaram a inclusão das placas da camionete utilizada no sistema de monitoramento do COI – Centro de Operações Integradas – da Guarda Civil Municipal. E não demorou muito para o alerta “apitar” e acusar a entrada do veículo. Dois dias após conseguir escapar, Marcelo retornou à Bragança Paulista certamente para aplicar golpes, eentão os investigadores emitiram um alerta à segurança do banco e saíram em diligência para encontrá-lo.
O primeiro passo era ir até a agência onde ele aplicou o último golpe, na Avenida José Gomes da Rocha Leal, assim que chegaram, os tiras viram o veículo estacionado na Travessa Inácia da Silva Pimentel, bem em frente à agência. Eles montaram campana e ficaram observando se ocorreria alguma movimentação. Foi apurado que os amantes tomavam um sorvete na doceria como um casal, algo fora de suspeita, e observam as pessoas que entravam na agência, selecionando uma possível vítima, até que uma senhora idosa entrou no banco, e nesse momento os investigadores viram que a amante deixou a doceria, entrou no carro e Marcelo atravessou a rua para entrar na agência e aplicar o golpe.
Imediatamente, os investigadores foram comunicados que o golpista estava tentando abordar uma senhora, porém, ela se recusou a ouvi-lo. Ao perceber que não conseguiria aplicar o golpe, ele deixou a agência e retornou ao veículo. Os Policiais Civis então se aproximaram e detiveram Marcelo e a amante. Questionados, eles disseram que estavam na cidade a passeio e que depois levaria a mulher passear em Extrema-MG. Ambos receberam voz de prisão e foram levados a sede da DIG.
Última vítima – A última vítima abordada pelo golpista, foi uma senhora de 65 anos. Ela quis representar contra os golpistas e relatou que foi até a agência e sacou uma certa quantia em dinheiro e, ao finalizar a operação, foi abordada por Marcelo, que insistentemente pedia para que ela colocasse o cartão no caixa eletrônico, dizendo que se não fizesse isso seu cartão seria bloqueado. Amedrontada a vítima retornou ao caixa por duas vezes e verificou que a operação havia sido finalizada e saiu da agência. Ela reconheceu Marcelo como o indivíduo que a abordou e tentou aplicar o golpe.
O casal não quis se manifestar, preservado o direito de apenas falar em juízo. Eles então foram autuados em flagrante por estelionato e encaminhados à Cadeia Pública de Piracaia, onde foram apresentados em audiência de custódia, qual manteve Marcelo preso preventivamente, e a mulher recebeu liberdade provisória. O carro foi apreendido, bem como os celulares dos golpistas.