WAGNER AZEVEDO
Para quem é apaixonado por aviação como eu, com certeza sabe como seria ter o benefício de poder voar de graça, pagando somente a taxa de embarque. Parece sonho, mas é uma realidade para funcionários de companhias aéreas no país, mesmo para pessoas que ocupam funções iniciais na hierarquia. O benefício permite que o funcionário reserve seu lugar e quase sempre há a disponibilidade de assentos vagos nos aviões.
Desta forma, o sujeito viaja a custos irrisórios. A eles basta acessar a principal plataforma para uso do benefício: é MyIDTravel, criada pela Lufthansa e utilizada por todas grandes companhias aéreas, inclusive a Azul e a Gol.
Pois é, mas parece que sempre dão um jeitinho de estragar tudo, até mesmo uma vantagem trabalhista. Recentemente um grande esquema de revenda de passagens aéreas foi revelado, gerando demissão de dezenas de pessoas. Funcionários cadastravam terceiros para utilizar o benefício que era vendido por valores que chegariam a R$ 20 mil anuais. O fio da meada da ilegalidade teria sido um passageiro que viajava dentro desse “formato” e que estava utilizando um cigarro eletrônico em uma aeronave que fazia o trecho da ponte aérea.
Foi necessária a volta do avião ao portão, que gerou um atraso de 35 minutos na chegada ao destino. Obviamente o passageiro foi desembarcado e a fraude descoberta desencadeou o início de um pente fino que levou a uma demissão por justa causa no Aeroporto Internacional de Confins (MG): em torno de 30 funcionários da Gol, acusados de venda de benefício-passagem, esquema que pode ter movimentado mais de R$1 milhão.
Existe uma regra do benefício que caso o funcionário ou seus dependentes não sigam as regras vigentes para o voo, incluindo a de segurança, perderá o benefício ou até pode ser demitido por justa causa. Esse foi caso da demissão dos funcionários da Gol em Confins, pois a pessoa cadastrava um desconhecido como beneficiário e este poderia desfrutar dos voos com descontos na companhia e outras empresas aéreas mundo afora.
Vários funcionários tiveram o benefício suspenso ou foram demitidos, e a pessoa que comprou o benefício perdeu acesso ao MyIDTravel, não podendo mais emitir passagens. Revoltados, eles foram atrás do intermediário e também de funcionários.
As companhias aéreas têm adotado sérias medidas contra esses esquemas, que incluem uma limitação do uso do benefício na contratação de pessoas envolvidas e até exclusão de programas de fidelidade.
Eu morrendo de inveja do benefício e quem o conquistou, pelo visto, pode prejudicar seus colegas que utilizam corretamente e manchar a imagem do trabalhador brasileiro. Uma pena!