WAGNER AZEVEDO
Os meses de janeiro e fevereiro, já de algum tempo, tem o poder de levar as mídias a recauchutar notícias velhas, de fatos que nem deveriam mais ocorrer, mas que por inércia dos governantes continuam a causar espanto e a ceifar vidas.
As chuvas dos primeiros meses do ano, desde sempre, e as tragédias provocadas por elas, são fatores ainda insuficientes para mexer com a consciência daqueles que comandam os governos, em todos os seus níveis.
Mortes, desabamentos, alagamentos, enchentes, deslizamentos e desmoronamentos não tem prazo para acabar neste imenso País. A liberação de dinheiro público para as localidades atingidas, certamente é uma forma de purgar a consciência, mas que não devolve as vidas perdidas.
Nossas autoridades, ávidas em usar aviões para visitar os locais atingidos pelas águas, prometem mundos e fundos para pôr fim ao espetáculo televisivo em que se transformou a morte de famílias inteiras, soterradas ou afogadas. Passados os dias mais difíceis, nunca mais tocam no assunto, até chegar o ano seguinte, com novas chuvas e tudo o que de ruim ela provoca.
Um deputado disse na semana passada, textualmente, ‘que o momento é o de apontar soluções e não culpados”. Frase de efeito, para enganar trouxas. É urgente que se apontem os culpados, que se nomeie os que foram eleitos em nome do povo e que assistem de camarote o espetáculo anual das enchentes. Nada muda. Ou melhor, mudam as regiões do País que se sucedem no noticiário: Rio Grande do Sul em um ano, Santa Catarina no outro, São Paulo, Rio de Janeiro, depois Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, enfim, um roteiro cruel, fadado a matar milhares de pessoas. A bola da vez, este ano, foi o litoral norte de São Paulo.
O povo, desolado com a situação, se une em ato de solidariedade para levar ajuda aos que perderam tudo. Ação louvável e que mostra o lado humano de uma população cada vez mais esquecida por aqueles que prometeram dela cuidar.
Enquanto o povo se dispuser a cumprir o papel que cabe ao Estado, os governantes vão fazer dele a bengala de que precisam para seguir dando desculpas, não solucionando os problemas e renovando promessas de que vão construir casas para quem mora em áreas de risco. Script manjado e que segue apenas no papel.
O leitor pode reservar um tempo, desde já, para um repeteco das tragédias e das mesmas notícias em janeiro do ano que vem.