Jonathan Alberti
Mais uma vez a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP, mostra ineficiência e total indiferença, tanto para com a população bragantina, quanto para com os mananciais da cidade. Esta semana a reportagem da Gazeta Bragantina e GB Norte, flagrou esgoto correndo a céu aberto em uma Área de Preservação Permanente – APP, que beira a Avenida Deputado Virgílio de Carvalho Pinto e as ruas Álvaro Contro, Elisário Eliseu de Oliveira (Planejada I), Antônio Godinho Filho, Jesuína Francisca de Oliveira (final da rua) e Ernesto Magiolini (essas no Julieta Cristina). No local, em uma área de mata densa e com diversas espécies nativas, inclusive com uma nascente, pode se ver o despreparo de engenheiros que fazem projetos sem pensar na manutenção da rede.
São diversos poços de visitas (PVs) sem nenhum acesso prático para manutenção e desentupimento. O “simples” vazamento de esgoto contamina à APP, que em uma medição feita pelo Google Maps tem pouco mais de 40 mil metros quadrados, dois córregos e o rio Lavapés. Aliás, o rio se transformou num depósito de esgoto pela autarquia. Em outubro, a SABESP foi autuada pela Secretaria Meio Ambiente por dano ambiental após direcionar, intencionalmente, o esgoto que extravasou de um Poço de Visita para o córrego que deságua no rio Lavapés. Segundo apurado pela GB, essa multa beira os R$ 22 milhões.
A reportagem conversou com dois homens que são frequentadores da área verde e moram na Planejada I há mais de 20 anos, e foram unânimes em afirmar que “O cheiro de esgoto incomoda há tempos”. Segundo o senhor Arlindo Gonçalves, de 74 anos, morador na rua Álvaro Contro, há 28 anos, a fedentina está presente em sua vida desde que mudou em 1994. “Esse cheiro tem uns 15 anos ou mais”, disse logo no início da conversa. Ele mora com sua família em frente ao local onde o esgoto está vazando e relatou que, há alguns anos, seu filho chegou a entrar em contato com a promotoria e só assim a Sabesp, rapidamente, compareceu para consertar o problema. “Eles vêm, dão umas mexidas, dá uma consertada né, mas que… Quando pensa que não (vai ter mais problema) vem a primeira chuva e estoura tudo”, disse. Para seu Arlindo, a Sabesp deveria ter mais responsabilidade com a população que paga seus impostos, dentre eles a taxa de tratamento de esgoto. “Isso aí é sem-vergonhice, a gente paga o imposto tudo em dia e a SABESP cobrar o que eles cobram”, lamentou Senhor Arlindo, ao falar sobre o valor pago pela taxa de esgoto e sobre o vazamento de esgoto em uma área em que ele plantou diversas árvores como jacarandá, flamboyant, árvores frutíferas, ipês entre outras espécies e flores.
Para o senhor José Roberto, conhecido como Pescador, morador do bairro há 35 anos e frequentador diário da área verde, o local deveria receber melhorias não apenas da Sabesp, mas também do município. A exemplo de seu colega Arlindo, ele relata que o odor nauseante sempre incomodou. “A tubulação está ali só por estar” e dispara: “Tem que ter um tratamento de acordo com o que eles cobram, pois a gente paga sem ter o serviço. O mau-cheiro ali em época de calor você não aguenta, quando tá chovendo ameniza. Sempre foi isso aí”, lamenta. Ele ainda diz que se a prefeitura fizer uma limpeza na vegetação, correção das voçorocas, o local pode se tornar mais um Parque Ecológico. “Se limpar, plantar mais árvores será bom para os bichos que tem ali, um belo parque”.
Área contaminada – A GB e GBN percorreram o que pode se chamar de “caminho do esgoto” dentro da Área de Preservação Permanente. Logo no início, em um barranco com cerca de 5 metros de altura, já é visível o problema: uma tubulação da rede coletora da Sabesp quebrada, jogando o esgoto diretamente em uma voçoroca (erosões causadas pelo caminho constante da água de rede pluvial e esgoto). Ali, uma grande quantidade de água escura e fétida fica parada, escoando pela erosão de proporções gigantescas. Antes de contaminar a área, o esgotamento sanitário ainda se funde com águas da rede pluvial. Isso, porque outro erro, de administrações municipais anteriores, se repete em vários locais da cidade.
Uma boca de lobo da rede de captação de água pluvial é direcionada para o terreno, e sem ter uma tubulação ou um caminho de gabiões, acaba formando a erosão.
Quanto mais se adentra na mata, mais o odor fétido e nauseante contamina o ar que deveria ser puro e renovador. Aliás, não é apenas o ar que é contaminado. São centenas de árvores que beiram o caminho da água e que absorvem toda essa sujeira. Além disso, um veio de água limpa, oriundo de uma nascente no meio da densa mata, se funde com a água podre e desemboca no córrego que segue para outro ribeirão que se forma no Lago do Julieta Cristina.
Em seu curso natural, esse ribeirão deságua no Rio Lavapés, levando o esgoto e destruindo ainda mais o rio que é marco da cidade e já abrigou uma grande diversidade de peixes.
Rio Lavapés – O rio que já proveu o sustento para muitas famílias bragantinas, hoje está destruído, muito por culpa da autarquia que, por décadas, lançou esgoto em ribeirões que o alimentam, sem sequer se preocupar com o tratamento. Foram cerca de 30 anos de taxas de esgoto cobradas enquanto o efluente não tinha nenhum tipo de tratamento e rasgava quase toda a cidade à céu aberto. Mesmo assim, um dos principais rios da cidade que desemboca no rio Jaguari, resiste em diversos pontos, mesmo em meio à sujeira.
Segundo o senhor José Roberto, o Pescador, o rio está repleto de tilápias grandes, porém elas estão contaminadas e não podem ser consumidas. “O rio tem peixe, como que uma pessoa pega e come um peixe dali, tá tudo contaminado”, relatou, que também disse plantar árvores e frutas, às margens do ribeirão nas proximidades da Igreja Assembleia de Deus Missão. Nesse ponto, José Roberto relata que está o desague do ribeirão que vem do Julieta Cristina. Segundo, ele ali “cai uma água preta e fedorenta, que contamina mais o rio”.
Essa é uma das reclamações do mecânico José Ulisses das Chagas, de 68 anos, morador da Rua Eduardo Risk, há 26 anos. Mesmo morando em uma parte alta, ele reclama do odor de esgoto que vem do local. Diz que o cheiro trazido pelo vento vem diretamente dessa área que fica atrás da Assembleia de Deus, às margens da Rodovia Capitão Bardoíno. “O cheiro vem lá de baixo, no calor o mau cheiro é terrível. Não sei como o pessoal da igreja aguenta o cheiro ali”. José ainda disse que já viu diversas tilápias no local. Ele revelou que um colega pescou um dos peixes e levou para sua casa apenas para ver o quanto a poluição afeta a carne dos peixes. Segundo ele, enquanto limpava o peixe um forte cheiro exalava da carne do peixe. “Ali era para ser uma água limpa. Antigamente o pessoal pescava ali no Lavapés, era limpo. Hoje tá essa imundice. Cada tilápia ali que é a coisa mais linda da vida, de quilo, e não pode pegar porque não presta”, lamentou.
Ele disse ainda que além do cheiro trazido pelo vento, o retorno pela rede é insuportável, relatando que desde que a SABESP fez a rede de esgoto, o cheiro é insuportável.
Danos – A exemplo do dano ambiental causado pela SABESP em outubro de 2021, não dá para dimensionar o quanto a área foi degradada pelo despejo do efluente. Porém, é inegável que esse desastre ambiental seja extremamente prejudicial a APP, aos córregos que carregam essa sujeira e aos rios Lavapés e Jaguari.
Além disso, a contaminação causa danos irreparáveis na fauna e na flora tanto da APP, quanto dos mananciais. Tudo isso deve ser avaliado pela Secretaria de Meio Ambiente, que, se comprovar as denúncias feitas pela Gazeta Bragantina e GB Norte, deve aplicar as medidas cabíveis à autarquia.