De origem vulcânica, formado por vinte e uma ilhas, o paradisíaco arquipélago de Fernando de Noronha, localizado no estado de Pernambuco, tem seus encantos escancarados para todos, junto ao seu turismo sustentável. No entanto, o local também apresenta inúmeros mistérios, como lendas sobre gigantes petrificados, tesouros escondidos, monstros marinhos, fantasmas tenebrosos e até mesmo sobre um terrível dragão. Esses são apenas alguns exemplos de histórias fantásticas que rondam o imaginário do famoso arquipélago nordestino. Devido à importância desse conjunto de lendas para a localidade, pesquisadores acreditam que em breve elas serão orgulhosamente consideradas Patrimônio Imaterial.
Assim, dentre elas, temos a lenda da sedutora Alamoa – corruptela da palavra “alemã” –, considerada por muitos como a mais popular. Segundo relatos, principalmente quando as tempestades se aproximam – também em noites sem lua, ou ao anoitecer das sextas-feiras –, ela surge toda despida exibindo longos cabelos loiros, e insinuantes olhos azuis; vagando pelas redondezas do ponto mais alto de Fernando de Noronha, o Morro do Pico, que tem mais de 300 metros de altura. Ao abrir uma fenda luminosa em meio às rochas, com seu intenso facho de luz ela chama a atenção dos desafortunados viajantes que navegam pelos mares, ou caminham pelas areias.
Aqueles que se aproximam do local por curiosidade, ou procurando abrigo da cruel tempestade, logo se deparam com aquela linda mulher. Fascinados por sua voz acolhedora e seu corpo provocante, eles adentram a gruta, que mais parece um palácio dourado. Os homens são surpreendidos com sua morada repleta de tesouros, e logo enchem os bolsos de ouro e pedras preciosas, enlouquecidos de amor pela anfitriã. De repente, aquela felicidade é consumida pelo desespero; a fenda se fecha, as riquezas tornam-se areia, e aquela atmosfera agradável dá lugar a um ambiente tétrico e hostil, cercado por pilhas de ossos – está exposta a verdadeira face sombria da Alamoa. Instantaneamente, sua pele branca e macia começa a definhar-se, seus belos olhos azuis perecem, deixando dois buracos fundos e horripilantes à mostra, revelando ser uma pútrida caveira, pronta para torturar as vítimas até o último suspiro de suas vidas.
Já foi muito comum o uso de ilhas como prisões, o arquipélago de Fernando de Noronha foi uma penitenciaria por mais de 200 anos. Inescapável, suas águas eram os muros e as celas perfeitas. Dizem que foi justamente nesse período que a lenda da Alamoa surgiu, sendo contada pelos antigos detentos. Porém, ela segue assombrando os moradores até os dias de hoje, que ainda ouvem, ecoando pelas rochas, os angustiantes gritos dos homens capturados pelo esqueleto fantasmagórico de tentações fatais.
NOTA
Hoje, 22 de agosto, é comemorado o Dia do Folclore!
O folclore é algo vivo, sinônimo de resistência, de preservação das memórias e da sabedoria popular. É parte integrante do povo, e pode ser manifestado de diversas formas. Por suas lendas, cantigas, artesanatos, festas populares, entre outros elementos que compõem nossa rica cultura, carregada de influências indígenas, africanas, e europeias. É o respeito e a valorização das nossas identidades culturais.
Caio Sales é ilustrador e escritor, autor da série O Imaginário do Mundo e criador do blog My Creature Now, sobre criaturas mitológicas e lendas urbanas. @caiosales_art | Acesse: www.mycreaturenow.com