Existe uma história sobre uma criatura colossal e aterradora, com mais de trezentos anos de idade, que se esconde no fundo do rio São Francisco. O tempo apodreceu suas barbatanas ao ponto delas caírem, tal fato lhe atribuiu um corpo cilíndrico como o de uma minhoca, dando origem ao seu nome. Ao contrário do Caboclo-d’Água, outro ente folclórico que habita as misteriosas águas do mesmo rio, o Minhocão é um monstro de ataques inegociáveis que, diferente de seu companheiro de assombração, não aceita tributos. As súplicas dos pescadores e canoeiros são insignificantes diante de sua fúria. Segundo a lenda, sua violência incontrolável decorre de sua velhice. Avança de maneira inconsequente, como um reinante bestial enlouquecido.
Relatado como um gigantesco monstro fluvial e subterrâneo, ele consegue andar sobre a terra ou cavar imensos túneis. Meio serpente, e meio peixe; toma – ou tem – a forma de um surubim ancestral de proporções titânicas – peixes como os pintados e os cacharas são da espécie surubim. Também é descrito com um corpo todo molenga e escuro. Inclemente, a criatura é tão destrutiva que, aqueles que a veem logo são massacrados; porém, sabe-se que possui uma horrenda boca com muitos dentes. Alguns relatos dizem que não possui olhos, outros a citam com uma língua de fogo.
Serpenteia pelas águas de forma violenta causando redemoinhos e virando embarcações; é capaz de naufragar as barcas com uma simples, porém letal, movimentação de sua cauda. Arrasta para o fundo do rio mulas e cavalos que fazem a travessia, bem como o gado que se alimenta próximo das margens. Pela terra, causa tremores e derruba barrancos. Curiosos e desmensurados buracos circulares apresentam um alerta de rastros ameaçadores do ser folclórico em caçada pela superfície – alguns dizem que seu mito é utilizado para explicar fenômenos naturais de erosão.
Habita não somente as típicas áreas repassadas pelo rio São Francisco, como também as regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil; citado também no Pantanal. É contado que a criatura gosta de hibernar, mas sabe-se que, aqueles que incomodarem seu repouso com festas próximas ao rio, terão um destino terrível. Impetuoso, ele se ergue das profundezas desmoronando as ribanceiras de forma brutal e devorando os ribeirinhos. Após deleitar-se com o caos, retorna para seu sono profundo, em suas galerias subterrâneas. Nunca perturbe o monstro.