Uma série de furtos está infernizando a vida da população bragantina. Na semana passada, pelo menos 10 furtos de fios em padrões de energia ocorreram em Bragança Paulista, causando transtornos e prejuízos a empresas e moradores da cidade. Nessa modalidade, a reportagem da GB fez levantamento junto a Polícia Civil e apurou que dos casos ocorridos em abril, apenas três foram registrados no Plantão Central da Polícia Civil, porém a GB não obteve dados registrados da Delegacia Eletrônica. O registro desse tipo de ocorrência é essencial para que a Polícia Civil crie parâmetros para uma investigação.
A reportagem também recebeu reclamações de furtos em vários locais da cidade, como no interior de empresas, residências e veículos. Em todas essas modalidades do crime a reclamação das vítimas é a mesma: a falta de policiamento preventivo nessas regiões, principalmente durante a noite. “Não adianta um monte de viatura, moto rodando a cidade durante o dia, se é durante a noite que os ladrões roubam. Aqui, à noite não passa, só se chamar”, relatou uma vítima que teve os fios de seu padrão de energia furtados.
Porém, não é apenas a falta de policiamento a principal culpada desses crimes. Outro fator que colabora muito para esse tipo de crime é a sensação de impunidade que os marginais têm.
Mesmo quando presos em flagrante, esses criminosos apenas dormem no Plantão Central da Polícia Civil e são liberados logo pela manhã na audiência de custódia, para responderem em liberdade. O motivo seria a falta de dolo, a covid-19 (que já está controlada) e a superlotação nas cadeias. A maioria desses furtadores, assim que libertados, cometem crimes na mesma noite e continuam o ciclo. “Chega a dar desânimo, até desmotiva, porque a gente faz de tudo para prender e diminuir a criminalidade nas ruas e muitas vezes o ladrão sai do plantão primeiro que a gente”, relatou um agente das forças de segurança que não quer ser identificado.
No caso de furtos de fios em padrões de energia, o que leva os marginais a cometer o crime é a quantidade de cobre na composição dos cabos. Uma empresa, por exemplo, que tem maquinário específico, pode ter cabos de 95 mm, que apresentam um bom peso. Para se ter ideia, um pedaço de cerca de 50 cm pode pesar quase 1kg. No mercado de sucatas, o quilo do cobre beira a casa dos R$ 40.
Nos casos levantados informalmente pela GB, na madrugada de segunda (11) para terça-feira (12), pelo menos seis locais foram alvos desses furtos. Três deles na região da rodoviária velha, um no Lavapés e dois na região do Cruzeiro. Em alguns desses lugares, toda a fiação que é composta por mais de 20 metros de fios, foi levada. Em uma residência no Cruzeiro, os marginais foram além e furtaram a fiação do local duas noites seguidas, causando prejuízos superiores a R$ 5 mil. Segundo apurado, o local furtado no Lavapés fica sob diversas câmeras do monitoramento da cidade.
Estatísticas – Segundo dados coletados no site da Secretaria de Segurança Público do Estado e São Paulo, apenas nos dois primeiros meses de 2022 foram registrados 239 furtos diversos – como de residências, interior de veículos, fios e cabos elétricos entre outros – 20 a mais do que 2021, que teve 219 casos nos dois primeiros meses, e 10 a mais na comparação com 2020, anos pandêmicos, que consequentemente tiveram redução de crimes em quase todas as modalidades. Já em pesquisa aos anos de 2018 e 2019, esses números aumentam, e muito.
Em 2019, entre janeiro e fevereiro, foram registrados 271 furtos, enquanto em 2018, o índice era bem mais alto com o registro de 315 crimes da modalidade nos dois primeiros meses do ano. Os casos de furto de veículos também registraram aumento nos dois primeiros meses do ano se comparados a 2021. Nesse ano, foram 29 veículos furtados em Bragança Paulista, em janeiro e fevereiro, contra 20 casos registrados em 2021 no mesmo período. Porém, a conversa muda quando se contabilizam os dados de 2019 e 2020. No primeiro ano da pandemia, que teve início em 26 de fevereiro de 2020, foram registrados 35 furtos nos dois primeiros meses do ano, já em 2019, no mesmo período, 39 veículos. Números superiores ao registrado em 2018, que teve 27 casos, dois a menos dos casos ocorridos em 2022.
Nas cidades com faixa populacional de 171 a 200 mil habitantes, na qual se enquadra Bragança Paulista, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE tem população estimada em 172.346 pessoas, a situação se torna assustadora. A título comparativo, a cidade tem mais casos do que duas cidades da região metropolitana de São Paulo e uma da Grande São Paulo locais que, em tese, deveriam ter mais casos pela proximidade da capital e faixa populacional maior. A única cidade que ultrapassa Bragança Paulista na quantidade de furtos é Araçatuba, que tem população estimada em 199.210 pessoas, e registrou 370 furtos nos dois primeiros meses do ano.
Em outras, Pindamonhangaba (171.885 habitantes) foram 139 casos, Itu (177.150 pessoas), 191 furtos. Na Região Metropolitana de São Paulo, as cidades de Francisco Morato (179.372 pessoas), 161 casos, e Itapecerica da Serra (179.574 pessoas) 180. Ainda na Grande São Paulo, a cidade de Ferraz de Vasconcelos, com 198.661 habitantes, teve 193 furtos no mesmo período.
Das oito cidades comparadas, além de Bragança Paulista e Araçatuba, apenas uma ultrapassou os 200 casos registrados nos dois primeiros meses do ano, Santa Bárbara d’Oeste que, com população de 195.278 pessoas, fica na região de Piracicaba e teve o registro de 221 furtos
Operações – Recentemente o Gabinete de Gestão Integrada – GGI, composto pelas Forças de Segurança de Bragança Paulista, executaram ações em empresas que compram sucatas. A ação levou à autuação de algumas pessoas e alguns quilos de cobres foram recuperados. Também a Concha Acústica, recém apelidada de “cracolândia bragantina”, foi alvo de ações preventivas para coibir o tráfico de drogas e a prática de delitos. As forças de segurança fizeram a verificação e pesquisaram os antecedentes de 28 pessoas e algumas possuíam inquéritos e processos judiciais, no entanto, ninguém se encontrava em situação irregular ou constava como procurado pela justiça. Essa ação deve ser realizada novamente nas próximas semanas.