Já tem algum tempo que atuo como redatora na GB e GBN, e afirmo que escrever matérias policias nunca foi meu forte. Sempre achei impactante, e me assustava diariamente com os inúmeros boletins de ocorrências de casos de agressões e homicídio contra mulheres – não apenas aqui em Bragança Paulista, mas em todos os lugares. Todos os dias uma notícia sai com o nome de uma vítima de agressão. Uma mulher, e nunca um homem.
As denúncias acontecem, mas não impedem que o homem continue sendo um agressor.
Nesta semana fomos surpreendidas por casos bárbaros: a jovem que foi arrastada por quilômetros na Zona Norte de São Paulo, por um carro de um sujeito que simplesmente decidiu tentar matá-la por não saber lidar com a rejeição. A mulher, jovem e mãe de duas crianças, teve suas pernas amputadas e segue em estado grave. Ele, em audiência de custódia, foi defendido com o argumento de que sua vida corre risco dentro do sistema. E a vida da jovem que ele tentou matar cruelmente? O freio de mão do veículo foi acionado, para dar mais tração e então prejudicar ainda mais essa vítima indefesa. Entendem como isso é absurdo?
Em seguida, mais uma bomba nos telejornais: um homem atirou, com duas armas, contra sua ex-companheira, enquanto ela estava em seu trabalho. Foram seis tiros e mais um boçal que não sabe lidar com rejeição. Ele descobriu que a EX-namorada estava com outra pessoa.
Ainda, o caso do ‘Calvo do Campari’, o agressor e influencer Thiago Schutz, que agora tenta se defender dizendo que também foi agredido. Se não sabe, este homem – uma referência no círculo misógino escancarado das redes sociais – foi preso em flagrante após a Polícia Militar encontrar sua namorada agredida e em estado de pânico no meio de uma rua, em Salto, no interior de São Paulo. Ela gravou vídeos, onde no áudio ouve-se nitidamente Thiago usando de um vocabulário baixo, completamente bêbado, onde dizia “ Para mim você não nega. ” – e outros absurdos. O caso foi divulgado como agressão e tentativa de estupro. Foi comprovada a agressão. Ele, apareceu dias depois, com marcas de arranhão no rosto, negando a tentativa de violência sexual, e que ambos se agrediram após uma discussão. Agora lhe pergunto, que mulher não tentaria se defender de um monstro? Fica aí a possível explicação para o que ele chama de “ter sido agredido”. Ele está livre, e acredita ser a vítima.
Por fim, nesta semana, agora aqui no município bragantino, uma criança de seis anos denunciou, em ligação ao Copom, seu padrasto que estava agredindo sua mãe, na Vila Aparecida. Uma criança teve a consciência do absurdo que é uma agressão – qual a dificuldade do sistema e demais pessoas entenderem?
Nós nunca estamos a salvo – de ninguém. Bragança Paulista possui núcleos de atendimento às vítimas de violência, assim como a Guardiã Maria da Penha. Mas, de novo, denúncias não impedem – e nunca impediram – que fossemos mortas, abusadas, violentadas, diminuídas, agredidas e desrespeitadas. É hora de rever a construção masculina, ou não sobrará nenhuma de nós.
Eu tenho medo de pegar um Uber sozinha, nesta cidade tida como uma das mais seguras do Estado de São Paulo. Medo de ser assaltada? Não. Medo de ser violentada. Sinto medo quando vou à shows tocar, e acabar topando com mais um homem bêbado que não irá medir forças se tiver qualquer sinal de interesse. Sinto medo de deixar minhas amigas na frente de suas casas, e algo acontecer com elas porquê mais um dia, um agressor saiu de casa.
Não temos culpa. Não é nossa roupa, nosso trabalho, nossas idas à bares e casas noturnas. É culpa deles. E de um sistema judiciário e prisional que falha miseravelmente ao julgar e soltar indivíduos que jamais deveriam estar convivendo em sociedade. Um agressor não é uma vítima do abuso de álcool. Não é provocado por nós. Ele é um criminoso e qualquer coisa será desculpa para que faça mais uma vítima. Quando nós estaremos a salvo?
Sarah Arruda é jornalista na Gazeta Bragantina e GB Norte, artista e – infelizmente – mais uma mulher que sofre com o medo de existir.