“Nada mudou. O inferno continua!”, essa é a definição que moradores das ruas Joaquim Leocádio, Olavo Toledo Leme, Miguel Salaroli, Emílio Kuntgen e José Serrano, vizinhos da garagem da empresa JTP Transportes, têm depois de dois anos e cinco meses após a GB Norte e Gazeta Bragantina denunciarem a poluição sonora vinda da garagem da empresa em 12 junho de 2021. Enquanto a concessionária se defende, dizendo que adotou ações para mudar a conduta interna, o poder público se omite em todas as esferas e nada faz para ajudar o munícipe. A GB apurou junto a um morador que foi solicitada uma reunião com o prefeito Amauri Sodré, que não quis atendê-lo, orientando-o a ir à delegacia fazer um Boletim de Ocorrência. Nessa semana a reportagem da GB retornou ao local a pedido de moradores e o que encontrou foi o mesmo cenário do encontrado há dois anos. Durante quase duas horas pudemos sentir a agonia de quem mora há pouco mais de 20 metros da garagem e literalmente não tem sossego para dormir. O barulho infernal das ferramentas pneumáticas, lixadeiras e da bomba de combustível continua a todo vapor, sem nenhuma mudança conforme alegou a empresa. Outra coisa que continua é a gritaria e conversas de baixo calão dos funcionários no abastecimento dos ônibus. Além de ir ao local, a GB recebe constantemente vídeos dos moradores, que retratam o barulho às 22h30 de um sábado, às 4h da madrugada e às 7h20 da manhã de um domingo. Horários incompatíveis para trabalhos com ferramentas pneumáticas, lixadeiras entre outros.
A situação – Chegamos ao local por volta das 22h e aguardamos junto a um morador. Por volta das 22h30, o barulho de ferramentas pneumáticas começou. Batidas nas latarias, lixadeiras e o revólver pneumático reinaram até umas 23h quando alguns ônibus começaram a se recolher. Aí começa o verdadeiro inferno das pessoas que moram nas ruas Emílio Kuntgen e José Serrano. O barulho da bomba de abastecimento, que é acionada a cada 15/20 minutos, ecoa dentro dos quartos das casas e se acumula ao som dos motores ligados dos ônibus que formam fila para entrar na garagem, fazer o abastecimento. Além disso, a falta de educação e sensibilidade dos trabalhadores continua imperando e nas rodas de conversa de baixo calão acontece de tudo, até histórias luxuriosas contadas em detalhes e em plenos pulmões, para todos ouvirem. Tudo de madrugada e embaixo da janela do quarto de dois moradores idosos, que são obrigados a ouvir a balela em meio ao ruído ensurdecedor da bomba de combustível, alertas sonoros de ré, barulhos de batidas em lataria (provavelmente em arcos do pneu), ferramentas pneumáticas, ferramentas arremessadas ao solo e a abertura do portão pesado.
Eles ainda relatam que desde que a empresa se instalou no prédio, a região que era tranquila virou um inferno. Muitos dos moradores saem para trabalhar às 4h, 5h da manhã, alguns têm que ir até outras cidades como Atibaia e não conseguem dormir. “Eles têm um revólver pneumático, que é para tirar pneu dos ônibus. Isso é um inferno às 2h, 3h da manhã. Não tem respeito”, explicou outro morador. Além disso, o barulho de lixadeira e batidas em lataria, como se estivesse sendo feita a funilaria dos carros ecoa pelas ruas e atormenta o sono dos moradores. O anexo I 4 do edital da Concorrência Pública 005/2019, exemplifica no item IV que: “IV Área para serviços de manutenção (…) D) Funilaria e Pintura. As áreas de funilaria e pintura devem evitar a POLUIÇÃO SONORA E AMBIENTAL, tomando-se as medidas previstas em legislação e normas ambientais vigentes. Ter sua construção isolada das demais áreas da oficina e possuir perfeito sistema de exaustão” o que aparentemente não está sendo cumprido pela empresa JTP, uma vez que durante toda a noite os moradores relatam barulhos dos equipamentos que são usados para funilaria dos veículos. Imagens aéreas mostram que os barracões de manutenção são abertos, sem isolamento de som, o que forma uma verdadeira “concha acústica” ecoando todo e qualquer tipo de poluição sonora pelo bairro. Segundo um morador, um amigo que tem o medidor de decibéis, registrou, de forma informal, o valor de 104 decibéis durante o acionamento da bomba de combustíveis. Segundo a norma da ABNT, o valor permitido em áreas residenciais é de 50 Db durante o período das 20h às 7h.
Moradores ainda contaram a reportagem já ter batido na porta da garagem às 2h30 da manhã para pedir para que os funcionários “maneirassem no barulho”. “É inaceitável a gente ter que se medicar para conseguir dormir. Eu por exemplo tomo remédios senão não consigo dormir. Além disso, tenho minha filha pequena que sempre acorda assustada com os barulhos”, relatou um dos moradores da rua José Serrano, que ainda revelou que os barulhos estão influenciando diretamente no seu dia a dia. Ele relata ter uma filha pequena que passa a noite acordando assustada, chorando por conta dos barulhos e gritaria que vêm da garagem. A abertura do portão é um dos barulhos, mesmo com a empresa dizendo que instalou borrachas amortecedoras e controle remoto nos portões para evitar barulho no fechamento, que incomoda a família, além da gritaria durante as partidas de truco que são jogadas no espaço onde funcionários descansam e confraternizam.
Ainda em 2021, a empresa lançou num plano de ação e disse que seria feita a análise de isolamento sonoro na área onde são feitos os trabalhos de funilaria e similares o que, segundo moradores, até agora não foi feito, uma vez que eles relatam ouvir barulho de lixadeira e batidas em lataria. “A gente escuta tudo aqui, nas ruas de baixo (Emílio Kuntgen e José Serrano), não foi nada isolado, uma barulheira só de funilaria. Esse isolamento que eles disseram ter feito, ou não foi feito, ou não resolveu nada”, finalizou um dos moradores da rua Joaquim Leocádio.