Jonathan Alberti
Investigadores da Central de Polícia Judiciária – CPJ, sob o comando da delegada titular Dra. Nágya Cássia de Andrade desvendaram crime de homicídio ocorrido no dia 19 de agosto, na Planejada I. A vítima, P.H.P., de 29 anos, que sofria de esquizofrenia, foi induzida e praticamente obrigada a cheirar cerca de sete gramas de cocaína, até passar mal. Seus executores exacerbaram a crueldade e frieza, gravaram todo episódio e divulgaram em redes sociais, inclusive quando a vítima já estava em estado de parada cardiorrespiratória. Ao todo foram gravados três vídeos que foram publicados em redes sociais e apresentados a CPJ. Em um deles, os assassinos filmam o rapaz passando mal e continuam em tom de brincadeira e risos, sem nenhuma demonstração de que o socorro foi acionado. “Num segundo vídeo, e isso nos causou muita indignação, a vítima está passando mal, já em estado de parada cardiorrespiratória, com falta de ar e a pessoa continuou filmando e rindo. Eu tenho 30 anos de Polícia e eu nunca vi isso e eu não vou aceitar isso como sendo uma coisa normal. Não é e não pode ser normal. Rindo da morte alheia, isso não pode existir! ”, disse a delegada titular da CPJ.
Até o momento quatro pessoas foram identificadas por envolvimento no crime. Duas, uma garota identificada como Ane C. B. N., de 18 anos que fez os vídeos e os divulgou e um rapaz identificado como Cleber H. L. P., de 27 anos, que no vídeo aparece próximo a vítima, estão presos preventivamente pelo crime. Já Vitor G. S., de 22 anos, vulgo “Pezão” que é apontado como quem ofertou a droga gratuitamente à P., e Gabriel L. C., vulgo “Suco” ou “Suquinho” de 24 anos, que no vídeo aparece ajeitando a pequena “cordilheira” de drogas para que a vítima consumisse, estão foragidos. Todos os indiciados incentivaram e induziram o rapaz a consumir a droga. Outras três pessoas continuam sendo investigadas e devem ter o mesmo destino de seus comparsas.
A investigação – Após a constatação da morte, o caso foi registrado como morte suspeita e encaminhado para a experiente equipe de tiras da CPJ, Ademar e Leandro que iniciaram as apurações para checar a causa da morte. Em um primeiro momento, foram enviados três vídeos para os investigadores, montando uma ordem cronológica do crime.
“Esse primeiro vídeo nos mostrou que não se tratava de uma morte suspeita e sim de um homicídio. No vídeo constam várias pessoas numa situação de brincadeira, risos, de deboche, instigando Pablo a usar farta quantidade de cocaína, em torno de 7 papelotes de cocaína em uma única situação de uso e isso extrapola os limites do ser humano. Uma dessas pessoas estava filmando, rindo e debochando, tipo assim: ‘Vai P.., usa P..”., explicou a delegada.
Nesse vídeo, pode ser ver um ambiente descontraído, onde “Suquinho” esticou duas largas carreira compostas por sete papelotes, cerca de sete gramas ou mais, de cocaína no capô de um carro. Após, é possível ouvir Ane, Suquinho, Pezão e Cleber, além de outras três pessoas, incentivando P. a usar a droga. É possível ouvir um dos envolvidos dizer “vou por no status”, se referindo aos “status” do aplicativo WhatsApp. Também é possível ouvir uma pessoa dizendo, “grava Ane” e Ane dizendo “vai P.”. Momento em que o rapaz, nitidamente sem jeito e induzido pelos assassinos inicia o uso, porém, ele para na metade da carreira. Instantaneamente, Pezão, um dos assassinos diz “Ih num guentou”, debochando do rapaz e Ane dizendo “respira e inspira”, rindo em seguida. Logo após, Pezão dá a ordem para que “Suquinho” junte toda a droga, o que é feito e logo em seguida o vídeo é paralisado. Conforme investigação apontou eles continuaram induzindo P. ao uso de drogas até ele passar mal. Após ser presa, Ane disse em interrogatório que fez o que fez porque estava embriagada, que divulgou por engano, porque não era ter sido divulgado.
Após o recebimento dos vídeos, os investigadores passaram a identificar os suspeitos e a ouvir testemunhas do crime. “Começamos a investigar, muitas pessoas foram ouvidas, conduzidas à delegacia e por enquanto, quatro desses indivíduos que fizeram parte do vídeo foram reconhecidos. Nós identificamos a pessoa que forneceu a droga, que ajeitou a droga em cima do capô do carro, a que filmou e uma quarta pessoa que estava próxima ao P. Outras três pessoas nós vamos chegar e estamos muito perto disso, inclusive a maioria delas pediram demissão do emprego, já sabendo que nós estamos atrás delas. Nós vamos chegar e colocar na cadeia todos os participantes”, disse a delegada Dr. Nágya.
A delegada ainda afirmou que essas informações coletadas foram primordiais para o reconhecimento do quarteto, o que levou ao pedido de prisão temporária deles. Porém, após o vencimento, a prisão de todos foi convertida para preventiva. “Nós representamos pela prisão temporária dos quatro e o juiz deferiu. Dois estão foragidos, inclusive esses dois são de uma adega onde os fatos se deram, inclusive o juiz já converteu a temporária em preventiva e o Ministério Público já denunciou os quatro por homicídio duplamente qualificado”, explicou.
Ela ainda diz que mesmo com a denúncia ofertada por parte do Ministério Público, as investigações continuam para identificar os outros três envolvidos. “E esses outros três, que nós estamos dando sequência nas investigações, irão para o mesmo caminho e eu pretendo colocar até numa associação criminosa, porque nós não podemos aceitar essa situação como normal”, comentou.
A titular da CPJ, disse que todos os envolvidos, com exceção da garota que filmou, tem passagens criminais entre tráfico de drogas e roubo.
Problemas de saúde – P. tinha um quadro de esquizofrenia que era do conhecimento de todos do bairro, o que torna o crime ainda mais cruel. “A mãe e o padrasto da vítima apresentaram documentos médicos mostrando que ele tinha problemas de saúde relacionados a esquizofrenia, justamente adquirida pelo uso de drogas. Em razão disso todos do bairro tinham conhecimento dessa situação, porque todos cresceram juntos”, explicou a delegada.
Impedimento do socorro – Houve um grande intervalo entre o momento em que P. começou a passar mal até o seu socorro, que foi impedido pelos assassinos, mais uma prova da crueldade dos executores. Segundo a delegada, um amigo de P. tentou acionar socorro e foi impedido pelas pessoas que aparecem nos vídeos. Um segundo vídeo, que tem duração de cinco segundos, mostra a vítima já em parada cardiorrespiratória e várias pessoas falando e rindo, porém, a voz de Ane se destaca rindo e debochando “Não aguentou. Não aguentou os sete! ”
“Esse pessoal que fez parte do vídeo, impediam o socorro, retardaram o acionamento do SAMU porque queriam o óbito. Uma das pessoas que não estava presente no vídeo, amigo de P., chegou viu ele passando mal, já no segundo vídeo, ele percebeu que não estavam deixando socorrer e foi até a casa da vítima e chamou a mãe da vítima”.
Mesmo com a mãe no local, os executores de P. tentaram impedir o acionamento do socorro. “A mãe que chegou ao local e quase que também foi impedida de socorrer o filho, mas ela se impôs e o SAMU foi acionado” disse a delegada. Foi apenas após a chegada dos socorristas que a vítima recebeu socorro. Um terceiro vídeo registrou o trabalho dos socorristas do SAMU, fazendo massagem cardíaca na vítima, que infelizmente veio a óbito.
O exame necroscópico apontou que o falecimento se deve por uma hemorragia interna. “Os sete papelotes de cocaína absorvidos pela vítima causaram um sangramento interno, uma hemorragia e o laudo necroscópico constatou isso”.
O caso foi denunciado pelo Ministério Público como homicídio duplamente qualificado e se a denúncia for acatada pelo judiciário, o caso será encaminhado à júri popular. O artigo 121, parágrafo 2º do Código Penal, prevê pena de 12 a 30 anos de reclusão.