A análise da vitória do Bragantino sobre o Ceará, no sábado à noite no Nabizão, deve começar com uma pergunta: por que o time conseguiu sua melhor apresentação no campeonato? Resposta: porque o treinador Maurício Barbieri fez três mudanças táticas na equipe, cobradas há muito tempo: reforçou o sistema defensivo com os laterais menos ofensivos e os volantes mais participativos na marcação, um meio-campo mais ágil na construção de jogadas e menos tic-tac, ou seja, menor quantidade de troca de passes no terço final do campo e jogadas com objetividade pelos lados do campo.
Para que essas mudanças dessem resultado, Barbieri trocou os dois laterais, com menos impetuosidade na hora de atacar, obrigou Ryller e Lucas Evangelista a defender e atacar com a mesma intensidade e fez o time jogar com mais verticalidade, acionando sempre Artur e Bruno Tubarão. Aquele irritante tica-tac de um lado a outro do campo foi deixado de lado e funcionou. A marcação alta logo de início, também não foi usada como de costume, e esse conjunto de ações surpreendeu o adversário.
Primeiro tempo – O gol não demorou a sair. Em cobrança de escanteio, Claudinho tocou curto para Alerrandro na pequena área, recebeu de volta, cruzou e a dupla de zaga funcionou: Ligger subiu e cabeceou para a chegada de Léo Ortiz, que só teve o trabalho de empurrar para as redes. Aos 9’, novamente Claudinho toca para Artur na entrada da área, que bateu por cima. Aos 11’ e aos 16’, mas duas chances, com Lucas Evangelista e Alerrandro.
Aos 18’, em cruzamento da esquerda para o segundo pau, o Ceará chegou ao empate através de Vina. O lateral Weverson marcou a bola e não um atacante que entrava pelo seu setor, que cabeceou para trás e serviu o companheiro, Vina, que bateu sem chances para Júlio César.
O Bragantino continuou a concentrar suas jogadas pelos lados de campo e aos 22’ Artur recebeu a bola na direita, cortou para a esquerda e bateu. Fernando Prass fez espalmou dentro da pequena área e Bruno Tubarão, rápido, mandou para as redes. O Ceará tentou dar a resposta em cobrança de falta, através de Vina, aos 30’, que obrigou Júlio César a uma grande defresa. E aos 44’, novamente em jogada pelo lado de campo, desta vez na esquerda, Bruno Tubarão foi mais rápido que seu marcador e cruzou na pequena área para Alerrandro tocar para o fundo do gol. E o placar teria sido ainda mais elástico se, aos 46’, Artur, novamente pela direita, depois de receber de Lucas Evangelista, servisse Alerrandro do outro lado, mas preferiu bater e a bola passou rente ao poste direito de Prass.
Etapa final – O Ceará voltou para o segundo tempo com duas modificações logo de cara, e nos primeiros cinco minutos tentou diminuir o prejuízo. Mas foi o Bragantino que quase ampliou aos 15’, em bobeira da zaga. Luiz Otávio recebeu a bola de um companheiro, se atrapalhou e Alerrandro se aproveitou para bater cruzado. A bola, caprichosamente, bateu na trave.
No minuto seguinte, em bela troca de passes entre Lucas Evangelista e Alerrandro, este tocou de calcanhar e deixou o companheiro na cara do gol, que em toque de categoria encobriu Prass para marcar o quarto tento.
Aproveitando-se da desorganização defensiva do Vozão, o Braga quase amplia aos 22’, quando Bruno Tubarão recebe passe de Aderlan, dentro da área, e bate na saída de Prass e a bola toca na trave.
A partir daí o Bragantino diminuiu o seu ritmo e o Ceará ainda tentou algumas investidas, como aos 36’, quando Sobral recebeu na direita e bateu para boa defesa de Júlio César. Aos 43’ Bruno Pacheco tocou para Wescley, Léo Ortiz não conseguiu cortar e o atacante bateu no alto sem chance para Júlio Cesar. E aí foi esperar pelo apito final do árbitro.
Um resultado para dar moral ao time que, desta vez, teve consistência na marcação, raciocínio rápido na criação de jogadas ofensivas e maior aproveitamento nas conclusões a gol.
ATUAÇÕES
Júlio Cesar: Seguro, defesas importantes e sem culpa nos gols que sofreu. Sua volta à titularidade deu mais confiança à zaga.
Raul: Sua improvisação como lateral funcionou. Pelo menos nessa partida. Seguro na marcação e muito tranquilo nas saídas para o ataque.
Léo Ortiz: Zagueiro artilheiro, foi bem no seu setor e desta vez não precisou se desdobrar para fazer cobertura dos companheiros.
Ligger: Participou do primeiro gol e se mostrou entrosado com Ortiz.
Weverson: Seu maior mérito, apesar de não estar atento no primeiro gol do Ceará, foi obedecer taticamente o que lhe foi pedido: defender mais do que atacar.
Ricardo Ryller: É o carregador de piano da equipe. Defende e auxilia na construção de jogadas com a mesma eficiência. Quando preciso, comete faltas. E vai ficar fora da próxima partida, pela segunda vez, na soma de cartões amarelos.
Lucas Evangelista: Outro que seguiu à risca o que lhe foi pedido, ou seja, maior intensidade na hora de ajudar na marcação, e rápido na construção de jogadas ofensivas. Fez um lindo gol. Sua melhor apresentação até aqui.
Claudinho: Não apareceu como das vezes anteriores porque a opção foi por menos toque de bola. Mas foi importante no setor ofensivo e fez o cruzamento que originou o primeiro gol.
Artur: Rápido o tempo todo, aproveitou bem a sua faixa de campo durante os quase 90 minutos que esteve em campo. Perigoso e perdeu duas grandes chances de ampliar o marcador.
Alerrando: Bem postado desta vez, fez um gol típico de artilheiro e deu um passe magistral para Evangelista marcar o quarto gol.
Bruno Tubarão: Outro que também cumpriu o que lhe foi pedido: maior participação na hora de ajudar na marcação, jogadas em alta velocidade pela esquerda e o oportunismo que deve ter um atacante. Fez um gol e poderia ter feito o segundo, se a trave não estivesse em meio à trajetória da bola.
As entradas de Aderlan, Luís Phelipe, Luan Cândido, Jan Hurtado e Matheus Jesus não alteraram o panorama do jogo.
Maurício Barbieri: Teve o mérito de enxergar os defeitos da equipe até então. Ajustou o sistema de marcação, trocou algumas peças e optou mais pela verticalidede no setor ofensivo do que os excessivos toque de bola.
BRAGANTINO 4 x 2 CEARÁ
Local: Estádio Nabi Abi Chedid, Bragança Paulista (SP)
Data: 19 de setembro de 2020 (sábado – 19 horas)
Àrbitro: Jefferson Ferreira de Moraes (GO) – Assistentes: Cristhian Passos Sorence e Leone Carvalho Rocha (GO)
Público e renda: Portões fechados
Cartões amarelos: Ricardo Ryller, Lucas Evangelista, Claudinho e Luan Cândido (Bragantino) e Luiz Otávio e Charles (Ceará)
Gols: Léo Ortiz aos 4’, Bruno Tubarão aos 22’, Alerrandro aos 44’ e Lucas Evangelista aos 61’ (Bragantino) e Vina aos 18’ e Wescley aos 88’ (Ceará)
BRAGANTINO: Júlio César, Raul, Léo Ortiz, Ligger e Weverson; Ricardo Ryller (Aderlan), Lucas Evangelista (Matheus Jesus) e Claudinho (Luís Phelipe); Artur, Alerrandro (Jan Hurtado) e Bruno Tubarão (Luan Cândido). Técnico: Maurício Barbieri.
CEARÁ: Fernando Prass; Samuel Xavier (Eduardo), Gabriel Lacerda, Luiz Otávio e Bruno Pacheco; Charles, Marthã (Willian Oliveira), Lima (Fernando Sobral), Vina (Wescley) e Leandro Carvalho (Felipe Baxola); Cléber. Técnico: Guto Ferreira.