2,6% das multas de trânsito aplicadas em Bragança Paulista, entre janeiro de julho deste, são referentes ao uso do celular ao volante. Segundo a Secretaria de Mobilidade Urbana, das 81.311 multas aplicas, 2.245 são referentes a infração do uso irregular do celular. O valor do total das multas para quem foi pego usando o celular enquanto dirige é de R$ 293,47 mais 7 pontos na CNH. O total de multas aplicadas chegam a R$658.840,15 o valor não tem relação com as multas pagas, apenas com as já aplicadas. Além do prejuízo financeiro, o motorista também deve se atentar ainda mais aos riscos de acidentes.
A psicóloga especialista em trânsito e presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG), Adalgisa Lopes, alerta que a dependência tecnológica está comprometendo nossa capacidade de dirigir com segurança, transformando uma atividade cotidiana em um risco iminente.
Segundo a especialista, tarefas corriqueiras que executamos no dia a dia ficam comprometidas pelo uso excessivo de telas. Isso acontece porque, conforme pesquisas, navegar na internet por 15 minutos e, em seguida, realizar qualquer outra ação reduz o foco e a qualidade da atenção. “O ato de dirigir, que exige atenção constante, pode se tornar uma atividade mais perigosa e fatal quando abusamos do uso de telas”, afirma a psicóloga de trânsito.
Manipulação e persuasão – O uso do celular promove uma atualização constante de recursos e estratégias que roubam nossa atenção. “Quem nunca se deparou assistindo a um vídeo engraçado no Instagram e, no momento seguinte, estava comprando um produto que nunca viu e nunca pensou que precisava? Esses são os mecanismos de manipulação e persuasão mencionados nas pesquisas sobre as mídias sociais. Tornamo-nos viciados sem perceber, checando compulsivamente o telefone e repetindo comportamentos inadequados que roubam nosso tempo, atenção, dinheiro e bem-estar imediato”, detalha Adalgisa.
Risco imediato e constante – O trânsito caótico, a pressa da modernidade e o uso excessivo de telas formam uma combinação perigosa para a vida de todos. “Estamos vivenciando uma saturação mental que impede um bom desempenho intelectual e das nossas funções psíquicas, provocando adoecimentos mentais irreparáveis. Somos impelidos a cometer erros nos afazeres da vida diária e estamos mais propensos a acidentes no âmbito doméstico, do trabalho e do trânsito”, destaca a especialista.
Motoristas de aplicativo – A psicóloga do trânsito explica que a situação é ainda mais preocupante para motoristas de aplicativos e entregadores, que dependem do celular para executar seu trabalho. Dirigir com atenção diminuída é o caminho certeiro para acidentes. “Não é à toa que quem mais sofre acidentes fatais são homens entre 18 e 27 anos. Muitos desses jovens trabalham como motoristas em plataformas digitais, fazendo crescer o número de pessoas com deficiências físicas e aposentadorias precoces por invalidez devido a acidentes de trânsito”, comenta.
Transtornos mentais crescentes – Estudos científicos têm associado o uso abusivo de tecnologias à depressão e ansiedade. No Brasil, as estatísticas são alarmantes: o brasileiro passa, em média, 9 horas e 29 minutos por dia na internet, bem acima da média global de 6 horas e 42 minutos. “A criação da web, segundo antropólogos culturais, é comparável à descoberta do fogo há 2 bilhões de anos. A internet mudou a forma como consumimos informações, entretenimento e reinventou os meios de interação social. Essa nova habilidade exigida pelos eletrônicos provoca mudanças no nosso cérebro, como perda da capacidade atencional e diminuição da criatividade”, comenta a psicóloga.
Essa realidade ajuda a explicar o motivo de, em vez de reduzirmos o número de mortes no trânsito, registrarmos o crescimento de acidentes. “Os fatores humanos correspondem a 90% das causas de acidente. No Brasil, as estatísticas mostram que fatores relacionados à desatenção são as principais causas de acidentes de trânsito. Precisamos urgentemente promover mudanças em nossas vidas. A vida digital não pode ser mais importante do que as experiências da vida concreta. Usar as telas com moderação pode preservar nossa maneira de raciocinar, assegurar nosso equilíbrio emocional e até a nossa vida”, completa Adalgisa.